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20/02/2020 às 08h00min - Atualizada em 20/02/2020 às 08h00min

'Parasita' explicita a luta de classes

CLÁUDIO DI MAURO | GEÓGRAFO DOCENTE NO IG/UFU

*Texto elaborado com a importante participação de Jhenifer Gonçalves Duarte discente do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia

A película que se chama Parasita é um longa-metragem sul-coreano dirigido por Bong Joon-ho que vem ganhando cada vez mais a adoração dos espectadores brasileiros desde seu lançamento no dia 7 de novembro de 2019. A obra conquistou a indicação e recebeu o Oscar como Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro na premiação SAG (Screen Actors Guild). Trata-se da primeira produção estrangeira a também levar o prêmio de melhor elenco.

É um filme estrangeiro que abriu os espaços em Hollywood e se constitui em um importante marco histórico. Mas a que se deve esse estrondoso sucesso?

A maneira singular e única de abordar criticamente as diferenças sociais, certamente será uma das respostas.  De início somos apresentados a família de Kim-Woo, que vive de maneira medíocre em um porão sujo infestado de insetos, posicionado abaixo do nível da rua onde a casa se localiza. Desempregados, os membros da família tentam a todo custo conseguir renda, dobrando caixas de papelão para uma pizzaria e se arrastando por cima dos móveis para obter a captação dos sinais de uma rede de wi-fi gratuita.

Logo no início do filme, os espectadores são levados a avaliar o peso do título Parasita. Mostra a “família que vive à mercê da sociedade”, como resto humano, indesejado, sanguessuga.  Na aparência, muitas pessoas são levadas a entender como parasitas aqueles setores sociais que “sugam” as vantagens obtidas em função do trabalho duro desenvolvido pelos setores da burguesia.

A vida da família Kim vira de cabeça para baixo quando Kim-Woo, o filho mais velho, recebe a visita de um amigo de longa data, acompanhado de uma proposta para trabalhar como tutor de inglês para uma garota de família rica. A partir desse emprego do jovem da família Kim, foi traçado um plano para ocupar todos os espaços de trabalho na casa burguesa.

O filme retrata com maestria o abismo socioeconômico que separa a vida e o cotidiano dessas duas famílias. Enquanto os Kim sobrevivem de migalhas conseguidas eventualmente, a família Park reside em uma mansão construída por famoso arquiteto, abusando de regalias e consumindo produtos importados. 

Assim é que todos os membros da família Kim-Woo ficam empregados na residência burguesa encenada pela família Park. Uma entre tantas cenas marcantes é exibida mostrando a feição de desprezo e superioridade inundando o rosto do patriarca da família e da senhora Park, ao se referir ao odor desagradável que emana de seu motorista (Sr.Kim) o que em diversas vezes os impedia de se concentrar em suas tarefas.

Em uma noite, enquanto o filho da família Park dormia em barraca impermeável, importada, no jardim de sua mansão, a casa e todo o bairro onde residia a família Kim era inundado e seus pertences levados pela água imunda. Esgotos jorrando pelas privadas, as pessoas tendo que salvar a vida e alguns objetos no meio de urina e fezes. Impressiona a cena da jovem que sentada sobre o vaso sanitário recebe os jatos dos esgotos que ascendiam das enchentes. Lembrou Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro nas enchentes destes dias de fevereiro de 2020.

Tanto lá, na Coréia, quanto no Brasil, os setores empobrecidos ficam expostos a ter suas casas invadidas e seus bens destruídos no meio de esgotos das enchentes. A dignidade humana é demonstrada como algo frágil que transita sobre uma linha tênue. Muito haveria para se comentar na análise do filme Parasita. Mas, é importante se identificar no final da história, uma verdadeira carnificina com o afloramento da revolta pelos imensos contrastes que caracterizam, confinam e dizimam as vidas das classes sociais subalternas. Não é possível que os setores bilionários deixem de compreender que estão acendendo o pavio que poderá causar a grande explosão social.

O filme denuncia o capitalismo e a clareza da situação em que são submetidos os setores empobrecidos, comparativamente com a fartura dos endinheirados. Aí se aprende com absoluta clareza o que caracteriza a luta de classes. Não é algo inventado por Karl Marx. É intrínseco, inerente à sobrevida do capitalismo. O diretor Bong Joon-ho argumenta que o filme, assim como suas outras produções aborda de maneira crítica o capitalismo. É seu objetivo demonstrar o quanto estamos nos esgotos produzidos pelo modelo econômico que prevalece. “Antes de ser um grande termo sociológico, o capitalismo é apenas a nossa vida”, diz Bong. 

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.













 

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