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26/01/2020 às 08h49min - Atualizada em 26/01/2020 às 08h49min

Ah, não!

WILLIAM H STUTZ
“os locais onde as nossas joaninhas são avistadas, segundo as mensagens, são cada vez mais insólitos, inimagináveis. Chaminés, trigésimo sexto andar de prédio, dentro de metrôs e mais uma longa lista louca. Pelo que senti, as pequenas estão entrando para a categoria dos Objetos Voadores Identificados, mas raros, OVINIS RARUS”


Ah, não! Outro domingo e esse cara vai falar de joaninhas novamente? Calma que explico. Devido à quantidade de mensagens, e-mails e tefonemas que recebi em função dos escritos de domingo passado, me senti na obrigação de continuar o assunto. Tá certo, não foram mensagens para me parabenizar pelo conteúdo em si. Embora algumas almas generosas assim o fizeram, na verdade o que as missivas e ligações traziam em comum eram relatos de aparições de joaninhas. E, olha, senti um fio de esperança, pois talvez eu estivesse julgando a humanidade com um olho só, o meu. Mas voltando às mensagens. Uma dizia: “Bom dia, pois eu vi uma Joaninha de duas pintas outro dia no elevador de meu apartamento.”

Outra: “Tem um vaso grande com plantas de plástico que rego pelo menos uma vez por semana na antessala de meu consultório e na semana passada mesmo vi uma dessas em um antúrio lindo que tenho lá. Para quem quiser atrair as bolinhas vermelhas é só me escrever in off que mando o endereço da loja. Eles têm cada coisa! Até samambaias de plástico MARAVILHOSAS !!!” Grafado desse jeito mesmo, em maiúsculas e com três pontos de exclamação. A pessoa estava realmente extasiada. Reservo-me a circunspecção para não colocar o contato do autor(a) aqui. Vocês irão entender meu ponto de vista no que diz respeito às imitações e ao plástico, assim espero.

Mais uma: “Em que mundo você vive? No meio do mato? Em alguma floresta ou beira de cachoeira? Você é do tipo que viaja vendo borboleta voar, grilo cantar? Só pode! Começou bem não é?” E continua: “Pois eu vejo esse bicho quase todos os dias em minha indústria textil, onde produzo fibras de viscose e poliéster. “

Antes de agradecer os adjetivos a mim dirigidos fiquei curioso com a relação entre essas tais fibras que todos usamos e nem sabemos de onde vem e o bicho. Uma corrida ao Google e me assustei. Olha o que encontrei no site da BBC (alguém duvida da seriedade da fonte?): “Se você veste calças ou malhas de poliéster, por exemplo, fique sabendo que a fibra sintética mais usada na indústria têxtil em todo o mundo não apenas requer, segundo especialistas, 70 milhões de barris de petróleo todos os anos, como demora mais de 200 anos para se decompor.” E mais: “A viscose, outra fibra artificial, mas feita de celulose, exige a derrubada de 70 milhões de árvores todos os anos.” (Quer consultar? Aí vai o endereço https://www.bbc.com/portuguese/geral-39253994).

Como ler é bom. Todo dia aprendendo. O News Brasil ainda nos conta que os têxteis só perdem para a indústria do petróleo como poluente. Destaquei com mais detalhes apenas esses dois exemplos, mas os locais onde as nossas joaninhas são avistadas, segundo as mensagens, são cada vez mais insólitos, inimagináveis. Chaminés, trigésimo sexto andar de prédio, dentro de metrôs e mais uma longa lista louca. Pelo que senti, as pequenas estão entrando para a categoria dos Objetos Voadores Identificados, mas raros, OVINIS RARUS primo dos OVNIS, com tais aparições discutíveis.

Como nem tudo está totalmente perdido, sou também portador de boas novas. A notícia é de 2018 e se puderem me atualizar agradeceria. O fato é que a Prefeitura de Belo Horizonte começou naquele ano a “produzir” joaninhas com a implantação de uma “Biofábrica” na Casa Amarela, mais precisamente no Parque das Mangabeiras, para quem conhece BH.

De lá sairão ou saem, não sei, kits com joaninhas para soltura e assim controlar um monte de pragas. Só não me simpatizei com o nome, Biofábrica. Poderiam ser mais criativos, mas se cumprirem o que prometem, será um avanço. Porém, a experiência tem mostrado o contrário. Promessa de político é que nem risco n’água. Bom, neste ano até que eles destampam em fazer de conta, pois tem eleição. Aí já viu. Não, não vamos estragar o domingo falando dessa gente.

Desejo sorte a Belo Horizonte com sua criação e que seja tamanha que possamos voltar a ver joaninhas, com pintas ou não, em todas as praças e todos os quintais que ainda existirem na nossa capital. No mais, como aposentei e depois fui literalmente escorraçado de “meu” laboratório de escorpiões, desde já me prontifico a implantar em nossa Uberlândia, como voluntário, um belo criadouro das joias da natureza. “Mole para quem toma Toddy”, como me disse um anjo em longe carnaval ouropretano e que até hoje produz efeito avassalador, parafraseio e lapido:  para quem criou escorpiões por décadas com altos índices de reprodução e taxas de mortalidade mínimas, joaninha além de ser um mundo de fantasia e sonho é um “Piece of cake”, como diria meu velho pai.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.









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