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14/01/2020 às 10h27min - Atualizada em 14/01/2020 às 10h27min

Experiências nos States

ANA MARIA COELHO CARVALHO, BIÓLOGA
“Na rua, cumprimentam educadamente. À tarde, saem para caminhar com os cães, presos em coleiras. Cada cão tem um “chip” implantado na pele do pescoço e um número de licença, chiquérrimo. Ninguém perde tempo passando roupa, saem amassadinhos mesmo, retiram a roupa da máquina secadora e pronto”

Depois que minha filha se formou em odontologia na Universidade Federal de Uberlândia, decidiu cursar o Mestrado em Ortodontia na Universidade de Michigan, em Ann Arbor. Trabalhava e estudava. Foi babá de um bebê prematuro com tanto carinho, que a família a convidou para madrinha da criança. Também foi garçonete em um restaurante. Com sacrifícios e determinação, terminou o curso com louvor e fez inúmeras provas para obter a licença de trabalho como ortodontista. Hoje trabalha no que gosta, é sócia de um consultório odontológico, casou-se com um americano e tem dois filhos.

Assim, o Zé (meu marido) e eu já fomos visitá-la algumas vezes em Sacramento, na Califórnia, como quando fomos para o aniversário do neto. É sempre um aprendizado, misturado com apuros e aventuras. Observei que as palavras que os americanos mais falam são “please”, “excuse-me”, “I’m sorry”. Na rua, cumprimentam educadamente. À tarde, saem para caminhar com os cães, presos em coleiras. Cada cão tem um “chip” implantado na pele do pescoço e um número de licença, chiquérrimo. Ninguém perde tempo passando roupa, saem amassadinhos mesmo, retiram a roupa da máquina secadora e pronto. Os carros param nas esquinas para os transeuntes passarem.  Para andar de trem, compra-se um “ticket” em uma “machine” e geralmente ninguém olha se você tem a passagem ou não. Mas se olharem e você não tiver, é um vexame e a pessoa tem que descer do trem.

Nas piscinas públicas, há bolas e brinquedos variados para as crianças brincarem e ninguém carrega nada (ah, se fosse aqui!). As descargas dos vasos sanitários funcionam sozinhas. Nas lojas tem de tudo, como um aparelhinho que decifra o DNA do seu cãozinho e traça o tipo de personalidade dele. Nos caminhões de lixo, só tem o motorista, que maneja um guindaste tipo pinça, pega o latão de lixo (são todos padronizados, mesma cor e tamanho) e sacode dentro da caçamba. Nada disso de garis correndo atrás do caminhão. Nas “freeways” (rodovias interestaduais), o asfalto é um tapete e existem seis pistas de cada lado, um show. Carros de todas as cores e marcas, carrões luxuosos, carrinhos incrementados, caminhões incríveis.

Os parques municipais são lindos, gigantes, bem cuidados, com campos de golfe, quadras, lagos e cisnes. No bairro onde minha filha mora, toda casa tem uma árvore imensa na frente, bem maior que a casa. Coisa linda de se ver, sentir seu frescor e aproveitar sua sombra. Melhor ainda porque os vizinhos não brigam entre si por causa das folhas que caem no passeio. E meu neto adora, pois ele ganha dólares limpando o passeio da vizinhança.

Além disso, as aventuras e os sufocos. Andando de carro, nos perdemos inúmeras vezes, mesmo com o mapinha com as “directions” e o GPS. Nos restaurantes, o drama para pedir o prato certo, com tantos nomes e variações, muitas vezes comendo sem saber o que. No restaurante chinês, quando o Zé recebeu o biscoitinho da sorte, comeu tudo, com o papel enroladinho dentro. Jamais vai saber o que a sorte lhe desejava. No aeroporto, o detector de metais que não parava de apitar quando o Zé foi revistado, um escândalo.

O causador da confusão foi o envelope de um comprimido de Melhoral, perdido no bolso da calça.  E o melhor da viagem foi o aniversário do neto, um piquenique no parque, com os avós sentindo que os netos são a recompensa de Deus por terem chegado à velhice. Ou então, que são a sobremesa da vida. No retorno, um sentimento gostoso de chegar ao Brasil, a pátria amada com defeitos e qualidades. Mas a gente tem um choque quando chega em Uberlândia e encontra ruas inteiras praticamente sem árvores. Saudade do verde, da sombra, da beleza das árvores. E saudade dói.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.













 
 
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