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29/12/2019 às 09h30min - Atualizada em 29/12/2019 às 09h30min

Sobre casamentos que duram

ALEXANDRE HENRY
Meus tios José Zardini e Odete comemoraram, há poucos dias, 75 anos de casados. Eu nunca conheci pessoalmente ninguém que tenha conseguido essa façanha e, sinceramente, acredito que menos de mil casais no Brasil inteiro estão nessa condição. Por falar em números, vamos a alguns divulgados pelo IBGE em 2018, relativos ao ano de 2017: a) os homens se casam, em média, aos 30 anos de idade; b) as mulheres se casam, em média, aos 28 anos de idade; c) o tempo médio de duração dos casamentos que terminam em divórcio era de 14 anos em 2017; d) para cada três casamentos, há um divórcio. Não achei os números relativos à duração dos casamentos que terminam apenas quando um deles falece, mas dá para fazer uma conta tomando por base a expectativa de vida do homem, que é de mais ou menos 73 anos de idade. Se o casamento se dá, também em média, aos 30 anos de idade, podemos concluir que os casamentos que perduram até a morte duram cerca de 43 anos.

Para mim, ainda falta mais de meio século para alcançar o feito dos meus tios e, sinceramente, acho que não vou conseguir. Dia 10 de janeiro, completo dezesseis anos de casado. Eu e a minha esposa teríamos que viver mais de 100 anos para conseguir completar 75 anos de matrimônio. De toda sorte, isso é algo com o que eu não me preocupo. Mais importante é viver bem o agora. Ainda assim, reflito com bastante frequência sobre o que permite a um casal passar décadas junto, sem cair na tentação do divórcio. Tentação? Claro que sim! Só quem é ou já foi casado sabe o quanto é difícil não desistir de tudo diante das inúmeras divergências que vão surgindo ao longo dos anos, diante da rotina massacrante que leva para longe as lembranças dos tempos mais animados de namoro, diante dos convites do mundo dos solteiros e suas infinitas ofertas de uma liberdade impossível para os seriamente casados.

Não é fácil continuar em uma mesma relação por muito e muito tempo. Por isso, a primeira atitude de quem não quer se separar deve ser a de decidir, todos os dias, continuar casado. Não, o que eu disse não é uma contradição ou uma idiotice, é a mais pura das verdades: se a maternidade ou a paternidade são escolhas que se faz uma só vez e que duram a eternidade, com o casamento se dá ao contrário, pois é preciso decidir todos os dias que se quer continuar ao lado daquela pessoa. E por que essa decisão é essencial? Porque, se eu decido que quero algo, geralmente eu passo a trabalhar para o sucesso do meu desejo. Quem quer progredir na vida de verdade no campo profissional não toma atitudes voltadas para isso? Claro que toma! Estuda mais, dedica-se mais ao trabalho, tenta aperfeiçoar seu desempenho, enfim, age guiado por um objetivo, que é o de se tornar um profissional melhor e mais bem sucedido. Com o casamento, é exatamente a mesma coisa. A partir do momento em que você acorda e decide que quer continuar com sua relação, isso acaba trazendo motivação para agir com o foco voltado para a manutenção do casamento.

Claro, não é só isso. Quando você lê pesquisas sobre relacionamentos, percebe que há alguns marcos importantes nos relacionamentos duradouros. Um deles, bastante relevante, é o respeito. O respeito tem várias facetas e todas elas são importantes, mas algumas são ainda mais essenciais, especialmente aquelas ligadas à não agressão. Eu não sei quanto tempo meu casamento irá durar, mas sei que, até hoje, nunca tivemos agressões físicas de qualquer uma das partes. Quanto às agressões verbais, elas são praticamente inevitáveis, mas fazemos de tudo para que sejam extremamente raras e que não cruzem determinadas linhas. Palavrões, xingamentos e, principalmente, depreciações em público são condutas que buscamos evitar. Aliás, casamento duradouro requer admiração mútua, que é o contrário da depreciação alheia. Também é preciso manter a chama do desejo acesa, algo bem difícil, mas não impossível. Quando você deseja a outra pessoa fisicamente, é natural que sua conduta com ela seja mais positiva. Sexo não é tudo, mas, sem ele, uma relação não é nada.

Por fim, é preciso, como em tudo na vida, enxergar o copo do casamento sempre como meio cheio, não como meio vazio. Cultivar a tendência de perceber muito mais as coisas positivas do que as negativas. Lembrar-se dos momentos bons e tentar se esquecer dos ruins. Com isso, as chances do casamento seguir adiante são muito grandes. É claro que isso não depende só de você, mas também do outro. De qualquer maneira, se você fizer a sua parte, já terá meio caminho andado.


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.










 
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