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22/12/2019 às 08h30min - Atualizada em 22/12/2019 às 08h30min

Os primeiros micróbios podem ser essenciais para saúde do bebê

ANGELA SENA PRIULI
Alterar a comunidade de bactérias que vivem no intestino pode ajudar as crianças a viverem bem ou mesmo evitar condições como asma e diabetes.

Após algumas semanas de nascimento, um bebê hospeda uma comunidade de bilhões de bactérias, vírus e fungos - a maioria dos quais são encontrados no intestino - que podem moldar muitos aspectos da saúde. Como essa comunidade, ou microbiota, se reúne é motivo de debate: alguns pesquisadores começaram a questionar o dogma de que o útero é um ambiente estéril, ou seja, de que os bebês não entram em contato com esses bichinhos enquanto estão no ventre da querida mamãe. Independentemente dessa discussão, é fato que o nascimento desencadeia uma transformação radical no intestino infantil.

"É um evento ecológico incrível", diz Phillip Tarr, um gastroenterologista pediátrico da Universidade de Washington em St. Louis, Missouri. A colonização do intestino começa a sério quando um bebê encontra microrganismos da vagina de sua mãe durante o parto. Quando o bebê mama no seio, ele também "pega" mais micróbios da pele da mãe. Além disso, consome micróbios do intestino da mãe que se infiltraram no leite materno.

Mais tarde, os micróbios são pegos de visitantes que ficam literalmente babando nos bebezinhos fofos ou em uma lambida do cão da família. Isso para resumir o que é viver em um ambiente doméstico normal e sujo. Com a idade de dois ou três anos, a composição da microbiota intestinal de uma criança é muito semelhante à de um adulto.

Caso o processo de montagem desse microecossistema de "bichinhos" seja descarrilado, as consequências podem ser fatais. Uma microbiota consideravelmente alterada está associada a uma forma de inflamação intestinal que é uma das principais causas de morte em bebês que nascem prematuramente. Muitos desses bebês são trazidos ao mundo por cesariana e, portanto, não entram em contato com os micróbios que vivem no canal do parto, o que é muito importante para a formação de um microbiota "positiva". Esses bebês também são frequentemente tratados com antibióticos poderosos e alojados em incubadoras de plástico estéreis, onde eles têm contato mínimo com a pele humana. Dado que essas intervenções separam os bebês de seu ambiente, não é surpresa que a microbiota intestinal de bebês prematuros seja marcadamente diferente daquela dos bebês nascidos a termo e de parto natural. Ele tende a ter uma menor proporção de micróbios que são benéficos para a saúde intestinal, como Bifidobacterium e Lactobacillus, bem como uma maior abundância de bactérias causadoras de doenças.

Por outro lado, mudanças menos extremas na microbiota em bebês saudáveis podem ter consequências a longo prazo para a saúde. Por exemplo, como já foi dito, crianças entregues por cesariana têm uma microbiota intestinal diferente daquelas nascidas por via vaginal, mas bebês amamentados e alimentados com fórmulas também têm microbiotas distintas em seu intestino. Estudos epidemiológicos sugerem que o parto por cesariana e a alimentação com fórmula estão associados a um aumento do risco de obesidade e asma, bem como a outras condições como diabetes, e muitos pesquisadores acham que esses efeitos podem ser moldados pela microbiota intestinal.

Poderia a microbiota intestinal do bebê, portanto, ser a chave para prevenir tais condições mais tarde na vida? A conexão não é assim tão simples. Estes são problemas complexos, a microbiota é apenas uma parte dessa chave. No entanto, a microbiota é um alvo atraente para a intervenção, porque pode ser mais fácil de modificar do que outros fatores de risco para determinadas condições. Já ouviu falar dos probióticos? Papo para um próximo domingo...

As ciências biológicas e médicas continuam trabalhando incessantemente em favor da nossa saúde e nosso papel, como sociedade atuante, é estar atentos aos progressos, aproveitar os benefícios e apoiar o trabalho, compartilhando as informações. Combinado, leitor do CiênciaPop?
 
Fonte:
Sarah DeWeerdt. Nature 555, S18-S19 (2018).


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.











 
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