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10/12/2019 às 13h19min - Atualizada em 10/12/2019 às 13h19min

Afrânio Azevedo 2

ANTÔNIO PEREIRA
Afrânio Azevedo nasceu em Uberaba, em 1910. Mocinho foi professor da roça, em Veríssimo, depois, contínuo no Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais, aqui em Uberlândia. Voltou para Uberaba. Fez Contabilidade e desenvolveu uma caligrafia muito bonita que executava com qualquer mão. Foi para o Banco do Brasil e, em 1936, quando se inaugurou a agência desse Banco em Uberlândia, na esquina da rua Goiás com a avenida Afonso Pena, veio transferido como Contador.

Em 1935, casou-se com Joaninha de Freitas, filha de Olímpio de Freitas e Augusta Maria de Freitas.

Iniciou na maçonaria em Uberaba, jovem ainda, na Loja Estrela Uberabense, e foi ativo obreiro no tempo em que a igreja travava intenso combate com a Ordem naquela cidade. Aqui, em Uberlândia, não consta que tenha frequentado Lojas maçônicas, mas fez doação significativa à Luz e Caridade: onze terrenos numa das entradas para o Distrito Industrial.

Foi agricultor e pecuarista de sucesso. Instalou casa bancária com Argemiro Lopes que depois passou sua quota para Olímpio de Freitas.

Foi político, no sentido mais amplo da palavra. Sua filha, a escritora Martha Pannunzio, costuma dizer que, em sua casa se almoçava política. Comunista, no dizer de d. Olívia Calábria, não militante, mas inscrito no Partido. Dona Olívia dizia que o Afrânio tinha conseguido um feito anormal no Partido: demitir-se. Inscreveu-se e, algum tempo depois, demitiu-se coisa que nunca tinha havido antes nem o Partido aceitava. Dizia ela que ele viajava muito e que fazia muitas doações. Grande Otelo durante um bom tempo de sua infância foi protegido de Afrânio e d. Joaninha que lhe deu de mamar.

Geraldo Migliorini, udenista roxo, ia aos comícios ouvir os grandes oradores daqueles tempos. Fosse de que partido fosse. Um dia, foi com o Afrânio a um comício comunista. A certa altura, veio uma procissão e passou pelo meio do povo, cantando hinos religiosos. Era o costume de d. Alexandre Gonçalves Amaral, bispo diocesano de Uberaba, que não tolerava comunistas. Doutor Alexandre costumava dizer que Uberlândia não era a Moscou Brasileira, porque era de Santa Terezinha. Dizia também que os comunistas eram ateus. Migliorini comentou isso com o Afrânio que lhe respondeu: pois eu sou comunista e sou cristão.

Foi denunciado como comunista ativo em 1964. Denúncia anônima e, possivelmente, apenas vingativa por ser um grande ruralista e defender a Reforma Agrária. Diziam que abrigava em suas terras grupos de guerrilheiros armados. Armou-se um cerco em torno da cidade para capturá-lo, mas Afrânio escapou e abrigou-se na Embaixada do Peru. Ficou fora do país por vinte meses, com passagens pelo Chile, Argentina e Uruguai. Seu patrimônio foi, praticamente, destruído.

Me lembro do sr. Afrânio pulando um valinho que tinha na entrada do Cadastro Rural, na Superintendência Regional da Fazenda, ali na praça Coronel Carneiro, pertinho de sua casa, na rua XV de Novembro. Tinha ido tirar uma nota fiscal de produtor rural para acobertar alguma venda de produto de uma de suas fazendas. Tempo depois, ouvi um funcionário do Cadastro comentar com outro: O seu Afrânio morreu do jeitinho que queria: pescando.
 
Fontes: José Olímpio de Freitas, Geraldo Migliorini e Olívia Calábria.  


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.







 
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