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16/11/2019 às 09h00min - Atualizada em 16/11/2019 às 09h00min

Comida de Verdade

Foto: Marcel Gussoni

Você é o que você come. Acho que desde que o mundo é mundo a gente sabe disso. Mas como gerir esse consumo consciente de comida?

Pra mim, a alimentação muda conforme a vida demanda. Em algumas épocas, onde o tempo não era como o ar rarefeito e as ideologias eram mais pesadas nas costas, eu não consumia industrializados e carnes. Já cozinhei em retiros onde a refeição é uma linda cerimônia, onde literalmente se come rezando belíssimos sutras, serve-se comidas que levavam horas para serem feitas. Na minha realidade de hoje, infelizmente, pode acontecer de comer dirigindo, alguma coisa qualquer comprada pronta. E tudo bem. Me acolho neste momentâneo caos alimentar.

Ano passado, morávamos em um sítio bem isolado do resto do mundo. Quase tudo que consumíamos era feito pelas nossas mãos. Tirávamos leite das vaquinhas do mosteiro e fazíamos queijo e manteiga. Verduras, frutas, feijões vinham das hortas vizinhas. Posso garantir que dá pra sentir no corpo os efeitos de estar se nutrindo com comida de verdade.

Comida raiz ou comida Nutella? Às vezes é doloroso saber o que existe por trás de um alimento processado. Ketchup, salsicha, extrato de tomate. Ler os ingredientes de uma mortadela, por exemplo, pode ser pior do que ler bula de remédio. Você chega a duvidar que vai sair vivo depois de engolir aquilo. Na época dos nossos avós, a cozinha era simples. Arroz e feijão. Galinha do quintal. Panc ainda não chamava panc e era o que todo mundo comia sem nojo. Banha. Quase nada vinha em embalagens descartáveis, com rótulos e tabelas nutricionais. Quase nada era “bebida láctea sabor iogurte”, “panetone com gotas sabor chocolate”. Não se precisava de enzimas para digerir lactose. Pão também, podia todo dia. Sem ser escondido da nutricionista. Ninguém precisava sofrer pra decidir se o ovo faz bem ou faz mal.

Vi um documentário esse fim de semana que, em outras palavras, dizia que os carboidratos foram inventados pelo demônio e agora ele está por toda parte nos matando silenciosamente. Que para sermos saudáveis precisamos exorcizar esse mal das nossas vidas e se alimentar basicamente de carne e gordura. Não me recuperei até agora desse susto. Estou tentando descobrir como os italianos fizeram para sobreviver todos esses séculos com toda aquela pizza, massa e risoto. E ainda por cima magros. Meledetti!
Na década de 80 surgiu em Bra, na Itália, o movimento Slow Food. Foi uma contraposição ao Fast food. Uma filosofia que valoriza o produtor local, a comida feita com ingredientes naturais, respeitando o meio ambiente. Propõe que a alimentação seja um ato político.

Para si e para o entorno. Diminuir o ritmo cotidiano para desfrutar melhor da vida. O prefeito dessa cidade vai de bicicleta trabalhar. Tenho tanta paixão pelo Slow food que queria tatuá-lo na testa. Porque é tão lindo viver com tanto sentido, priorizando fazer tudo com consciência. Mas porquê é tão difícil colocar isso em prática?

Comida de verdade dá muito trabalho, isso é fato. Meu companheiro faz pão de verdade e vejo a quantidade de horas, às vezes dias, que se leva pra se fazer algo sem truques artificiais. Mas vamos pensar em soluções. Como ter uma vida mais saudável em tempos difíceis?

Compartilho algumas soluções que estou experimentando, se tiverem outras sugestões vou adorar ouvi-las. Tenha uma pequena rede de bons fornecedores. Já compartilhei aqui sobre a cesta de orgânicos de produtores daqui da cidade. Eles me poupam inclusive o trabalho de escolher e ir comprar. Também encontrei fornecedores de “comida pronta fit” para os dias que todo o tempo que tenho é de pedir um delivery. Existem excelentes produtores artesanais que fornecem pães, bolos, biscoitos de verdade. Além de apoiar a economia local, você garante a qualidade do que está comendo. Faça um pequeno acervo de emergências. Por exemplo, esses dias passei uma tarde de sábado tomando um vinho e cozinhando delícias para congelar já em pequenas porções. Achei bons tomates em oferta e fiz litros de molho de tomate congelado, com cenouras, aipo e cogumelos picadinhos. Em dias onde a pressa beira o desespero, acho um luxo tirar do freezer um almoço que me alimenta até a alma. 

Outra dica é deixar folhas lavadas e secas em uma caixa organizadora na geladeira. Coloque um pano de prato seco para aumentar a durabilidade. A receita de hoje é uma dessas dicas deliciosas, e servida nesse meu pratinho preferido. Uma salada que é uma refeição completa, feita sem muito trabalho, para se desfrutar bem devagarinho.
 
SALADA COM FRANGO GRELHADO E MOLHO DE ABACATE
 
Ingredientes
Abacate
Suco e raspas de limão
Azeite, sal e pimenta do reino a gosto
Tomate cereja
Alface
Filés de frango
 
Preparo
Para fazer o molho bata o abacate com um fio de azeite e suco de limão, sal e pimenta do reino em um liquidificador ou mixer. A quantidade você pode variar de acordo com o quanto do sabor de azeite e acidez do limão você preferir. O ideal é conseguir uma consistência de pasta. Tempere o filé de frango da forma que preferir (por aqui uso limão, sal e alho) e grelhe até o ponto desejado. Fatie o filé em tiras. Agora só montar e servir.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.









 

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