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09/11/2019 às 15h00min - Atualizada em 09/11/2019 às 15h00min

Uso de tablets e celulares afeta o cérebro das crianças?

ANGELA SENA PRIULI

E como alguns pais e mães tinham a intuição, a resposta é sim! Um novo estudo documenta diferenças estruturais no cérebro de crianças em idade pré-escolar relacionadas ao uso da mídia baseada na tela.

O estudo, publicado na JAMA Pediatrics, mostra que crianças que têm mais tempo de tela têm menor integridade estrutural das áreas de substância branca em partes do cérebro que suportam a linguagem e outras habilidades emergentes de alfabetização. Essas habilidades incluem processo de imagens e função executiva - o processo que envolve controle mental e autorregulação. Essas crianças também têm pontuações mais baixas em métricas de linguagem e alfabetização.

O estudo, realizado pelo Centro Médico do Hospital Infantil de Cincinnati, avaliou o tempo de exibição em termos de recomendações da Academia Americana de Pediatria (AAP). As recomendações da AAP não levam em consideração só o tempo gasto na frente das telas, mas também o acesso às telas, incluindo o tipo dos dispositivos portáteis, o conteúdo, com quem as crianças estão e como elas interagem quando olham para as telas.

"Este estudo levanta questões sobre se pelo menos alguns aspectos do uso de mídia baseada em tela na primeira infância podem fornecer estímulos abaixo do ideal durante esse estado rápido e formativo do desenvolvimento do cérebro", diz John Hutton, MD, Diretor da Centro de Pesquisas sobre Leitura & Alfabetização do Hospital Infantil de Cincinnati, e principal autor do estudo. "Embora ainda não possamos determinar se o tempo de tela causa essas mudanças estruturais ou implica riscos de desenvolvimento neurológico a longo prazo, essas descobertas merecem mais estudos para entender o que significam e como definir limites apropriados para o uso da tecnologia".

Entre as recomendações da Academia Americana de Pediatria: Para crianças menores de 18 meses, evite o uso de outras mídias que não sejam o bate-papo por vídeo. Os pais de crianças de 18 a 24 meses que desejam introduzir mídia digital devem escolher uma programação de alta qualidade e assistir com seus filhos para ajudá-los a entender o que estão vendo.

Para crianças de 2 a 5 anos, limite o uso da tela a 1 hora por dia de programas de alta qualidade. Os pais devem covisualizar a mídia com os filhos para ajudá-los a entender o que estão vendo e aplicá-la ao mundo ao seu redor. Defina períodos sem mídia juntos, como jantar ou dirigindo, bem como locais sem mídia em casa, como quartos.

Entre as principais conclusões do estudo, estão: O estudo do Dr. Hutton envolveu 47 crianças saudáveis ​​- 27 meninas e 20 meninos - entre 3 e 5 anos de idade e seus pais. As crianças completaram testes cognitivos padrão seguidos por tensor de difusão, que fornece estimativas da integridade da substância branca no cérebro. Os pesquisadores deram aos pais um teste para aplicar, o ScreenQ, que reflete as recomendações da mídia baseadas na tela, de acordo com a AAP. Os escores do ScreenQ foram então associados estatisticamente aos escores dos testes cognitivos e às medidas de ressonância magnética, controlando idade, sexo e renda familiar.

Os escores mais altos do teste ScreenQ foram associados à menor integridade da substância branca do cérebro, o que afeta a organização e a mielinização - o processo de formação de uma bainha de mielina em torno de um nervo para permitir que os impulsos nervosos se movam mais rapidamente - em setores envolvendo a função executiva da linguagem e outras habilidades de alfabetização.

Em adição, os escores mais altos do teste ScreenQ foram significativamente associados à linguagem expressiva mais baixa, à menor capacidade de nomear objetos rapidamente (velocidade de processamento) e de habilidades emergentes de alfabetização.

"O uso de mídia baseada em tela é predominante e está aumentando em ambientes domésticos, ambientes de acolhimento de crianças e de escolas em idades cada vez mais jovens", diz o Dr. Hutton. "Essas descobertas destacam a necessidade de entender os efeitos do tempo de tela no cérebro, particularmente durante os estágios do desenvolvimento dinâmico do cérebro na primeira infância, para que os fornecedores, formuladores de políticas e pais possam estabelecer limites saudáveis".

Às vezes parece mais fácil dar o celular para os filhos, né? Quem nunca? Mas sabendo dessas possíveis consequências talvez possamos nos esforçar ainda mais e viver o momento, dia a dia, com nossos pequenos. Bora refletir...
 
Fontes:
John S. Hutton, Jonathan Dudley, Tzipi Horowitz-Kraus, Tom DeWitt, Scott K. Holland. Associations Between Screen-Based Media Use and Brain White Matter Integrity in Preschool-Aged Children. JAMA Pediatrics, 2019.
Cincinnati Children's Hospital Medical Center. "Screen-based media associated with structural differences in brains of young children." ScienceDaily, 4 November 2019.


*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.






 

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