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03/11/2019 às 08h15min - Atualizada em 03/11/2019 às 08h15min

A velhice e os robôs

ALEXANDRE HENRY

“O Instituto de Pesquisa da Toyota anunciou na semana passada que está desenvolvendo um robô doméstico que tem a capacidade de aprender continuamente como executar novas tarefas em todos os tipos de casas. O alvo são os idosos, cada vez em maior número, no mundo todo. A tecnologia aplicada é a mesma que permite aos carros autônomos da Tesla melhorarem continuamente sua condução, sem intervenção humana. Os novos robôs da Toyota usam robótica em nuvem e aprendizado profundo para compartilhar o conhecimento entre as máquinas”.

A notícia acima, publicada na Folha de S. Paulo há pouco menos de um mês, deixou-me bastante feliz. Eu sonho com uma velhice em que possa viver em minha própria casa, sem medo de acidentes e sendo cuidado, caso eu precise de acompanhamento contínuo, por um robô. Você pode até achar que eu estou errado, mas meu desejo tem seu lado racional. Hoje, quando uma pessoa necessita de cuidados permanentes, há basicamente três caminhos. O primeiro deles, e mais comum, é a família se desdobrar para dar conta do recado. O segundo, para quem tem bastante dinheiro, é contratar profissionais para fazer o trabalho na casa da pessoa necessitada. O terceiro é encaminhar a pessoa para uma casa de repouso para idosos. Nenhuma das três, porém, faz com que eu me sinta bem ou confortável.

Começo de trás para frente. Embora existam bons lares para idosos, o fato é que continuar na sua própria casa faz com que a pessoa não perca a conexão com tudo o que sempre foi a sua razão de viver. No final das contas, por mais bem cuidado que o idoso seja em um asilo, essa é uma situação que quase ninguém deseja. A segunda opção, dentre as que eu citei, requer bastante dinheiro e, com o tempo, ficará cada vez mais inviável, pois o custo da mão de obra, ainda mais especializada, tende a se elevar cada vez mais. Basta verificar, nos países desenvolvidos, quantas famílias possuem funcionários domésticos permanentes. Pouquíssimas. O custo é simplesmente inviável. Agora, imagine precisar de alguém durante as vinte e quatro horas do dia? No Brasil, isso já é – hoje – para poucos. Sem contar, obviamente, que há pessoas que não tratam bem os idosos, mesmo sendo pagas. Enfim, não creio ser essa a melhor ou mais viável escolha.

Chegamos à alternativa de ter alguém da família como cuidador permanente. Penso no meu caso. Só tenho uma filha. Vou fazer o quê? Vou desejar que a minha filha pare a vida dela inteirinha para cuidar de mim? Que ela perca meses ou até anos preciosos de vida presa ao meu lado? “Ah, mas é uma oportunidade que ela tem para viver os últimos momentos ao lado do pai!” – você pode pensar. Sinceramente? Você acredita que há prazer em ficar preso dia e noite a uma pessoa, cuidando dela? Será que eu quero que ela abandone a carreira para ficar me dando remédio três vezes por dia e vigiando se não vou me queimar no fogão? Sem chance. Até entendo que hoje não há outra solução, mas se eu pudesse escolher, eu gostaria que um robô fizesse essas atividades básicas de cuidados em relação a mim.

Fico imaginando o quanto isso seria bom. Com um robô totalmente adaptado e capaz, eu deixaria minha filha livre para viver a vida dela. Teria um cuidado profissional, praticamente à prova de falhas. O robô não me machucaria, não me maltrataria. Programado para cuidar de idosos, poderia até desenvolver habilidades que simulassem uma convivência com carinho nas palavras e no trato. Poderia, quem sabe, permitir com que eu fizesse passeios com mais frequência a lugares que minha filha não conseguiria me levar. E a minha filha, por falar nela? Bom, seguiria com sua vida sem se preocupar em abandonar carreira e os próprios afazeres. Poderia ficar tranquila sabendo que o pai está sendo bem cuidado. Poderia falar comigo duas, três, dez vezes ao dia, quem sabe por hologramas até, para me dar um pouco de atenção. E, livre daqueles cuidados que a máquina pode fazer, ela me visitaria pessoalmente com mais prazer, com mais amor e, aí sim, poderíamos aproveitar meus últimos momentos sem o estresse das obrigações cotidianas, com tempo livre para falarmos só sobre coisas boas.

Um dia, talvez minha filha leia esse meu texto e saiba desse meu desejo. Nesta semana, ela ganhou um pequeno aparelho que, conectado à internet e a sistemas de inteligência artificial, já conversa com ela e simula um pouco do que serão os robôs do futuro. Quero que ela se acostume a eles, pois eles são o futuro e, sinceramente, consigo ver muito mais coisas positivas do que negativas no que nos espera.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.






 

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