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03/11/2019 às 14h30min - Atualizada em 03/11/2019 às 14h30min

Catchup

JOÃO BOSCO

Paty não sei do quê? A distância não permite ler o nome completo, que está tatuado em letras góticas, em seu corpo, próximo ao pescoço. Disperso-me. Recebo do balconista o pastel e o catchup. Não gosto e gosto de catchup. Não gosto misturado ao pastel. Aquela poça e aquele gosto adocicado me lembram sangue. Gosto dele puro expelido com toda força, saindo do invólucro por um pequenino orifício. O suficiente para dar chance à mucosa se acostumar. Paty gosta de catchup? O gosto dela e ela em si não têm a menor importância. Mas saber o sobrenome, sem saber o porquê, sim. Furo o invólucro, provo o catchup e saio apressado à procura de Paty. Mais um vez aperto o invólucro e nada sai na minha boca. Aperto-o novamente com mais força e nada. Esqueço Paty na multidão e olho para o catchup. Percebo que está todo espremido. Noto a camisa empastada como se houvesse uma mancha de sangue — ou há!? Manchas que aumentam com o passar dos dias; que mesmo lavadas com água e sabão nos enganam, como enganam o paladar, as pitadas de catchup que têm gosto de sangue na boca de quem não gosta de sangue.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.







 

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