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29/10/2019 às 07h50min - Atualizada em 29/10/2019 às 07h50min

Os bondes do Coronel

ANTONIO PEREIRA

O bonde foi um meio de transporte muito usado em Minas Gerais. Segundo o pesquisador prof. Carlos Alberto Cerchi, de Sacramento, houve linhas de bondes em diversas cidades mineiras: Além Paraíba, Guarará, Juiz de Fora, Lavras, Nova Lima, Santa Luzia, Silvestre Ferraz, Theóphilo Ottoni, além obviamente da Capital, e uma curiosa linha rural em Sacramento. Aqui na nossa região, só Sacramento instalou esse tipo de transporte. Os bondes de Sacramento ligavam a sede do Município à estação do Cipó, que ficava a quatorze quilômetros. O objetivo era fazer conexão com a Estrada de Ferro Mogiana que, dali, se desviava para Conquista. Construída nos princípios do século, entrou em decadência a partir de 1924 e foi liquidada em 1939.

Uberaba bem que teve diversas oportunidades de possuir linha de bondes. Em 1891, o Barão de Saramenha recebeu a concessão de privilégio da Intendência Municipal para colocar uma linha de bondes em Uberaba. Não colocou. Em 1904 novamente se pensou em bondes, mas não aproveitaram. Em 1906, 1913 e 1920 houve novas concessões e prorrogações que não deram em nada.

Aqui, na velha Uberabinha, também se andou pensando em bonde. E quem poderia ser o idealizador dessa novidade senão o mitológico tenente coronel José Theóphilo Carneiro? Ele era um homem baixinho, sempre elegante, de terno escuro, colete e chapéu nos dias comuns, e farda da Guarda Nacional nos dias festivos. Destemido e da língua solta, parecia um visionário pelo tanto que sonhava e queria para a sua pequenina Uberabinha. Segundo dizem, foi ele quem conseguiu do Governo Federal a construção da ponte Afonso Pena em Santa Rita do Paranaíba (Itumbiara) (sem provas), quem convenceu o presidente da Mogiana a passar os trilhos da estrada de ferro por aqui (também sem provas), quem instalou a energia elétrica, quem mudou o nome da cidade e quem fez do seu armazém um posto avançado do fomento agrícola local. Foi ele que estimulou o plantio do feijão que ficou famoso pelo país todo como “feijão Uberabinha”.

Costumava dizer para os seus companheiros que ainda veriam a cidade cortada por bondes do Jataí ao Cajubá. Tinha sonhos altos. Dizia também, com os olhos enfiados no infinito, como se vislumbrasse as possibilidades do futuro: “Isto aqui ainda vai ser capital!”, e quase foi mesmo.

Como era homem prático que sonhava e lutava para realizar seus sonhos, quando montou a firma Carneiro & Irmãos, responsável pela instalação da energia elétrica, fato que se consumou em 1909, o coronel conseguiu da Câmara Municipal não só a concessão para a exploração da eletricidade, mas, também, para colocar linhas de bondes. Acredito que teria posto se não lhe tivesse sido tão sacrificante instalar a energia na cidade. Vendeu tudo o que tinha, inclusive a Fazenda da Chácara, que tinha esse nome por sua proximidade com a zona urbana. E os primeiros tempos, após a instalação, foram terríveis, com reações políticas adversas e rebeldias de usuários que resultaram na falta de pagamentos por alguns meses.

Pois é, quase, quase. Não foram tantas complicações talvez tivéssemos também uma linha pioneira de bondes.

(Fontes: Carlos A. Cerchi, José Soares Bilharinho, Waltercides Silva, Oswaldo Oliveira, Sandoval Guimarães, Atas da Câmara Municipal)

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.





 

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