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23/10/2019 às 08h13min - Atualizada em 23/10/2019 às 08h13min

Treine todo dia

FERNANDO CUNHA


Há alguns anos eu tive a oportunidade de assistir a uma palestra da Hortência Marcari, rainha do basquete brasileiro nas décadas de 1980 e 1990. Hortência é a maior pontuadora da seleção brasileira de todos os tempos. Em 127 partidas oficiais, marcou 3.160 pontos. Uma média de 25 por partida. Possui inúmeros títulos mundiais pela Seleção Brasileira e pelos clubes que atuou. Depois de sua carreira como jogadora, se tornou dirigente. Fora das quadras também colecionou alguns títulos. Um dos diferenciais da jogadora era a grande habilidade para arremessar em lances livres, que é a cobrança de falta ocorrida dentro da linha de três pontos. O fato é que ela, praticamente, nunca errava. Ela fechava os olhos, visualizava a bola entrando na cesta, abria os olhos e rapidamente a arremessava.

Segundo ela, o segredo estava na intensa rotina de treinamentos. Após os treinos normais com a equipe, Hortência praticava 1.000 arremessos livres diários, sem contar os erros. Outros atletas de alta performance também treinavam exaustivamente. Rogério Ceni, ex-goleiro do São Paulo Futebol Clube, se destacava pela precisão na cobrança de faltas e pênaltis. Até hoje, Ceni é considerado o maior goleiro artilheiro do futebol mundial. Isso graças ao seu esforço, pois, assim como Hortência, Ceni treinava inúmeras batidas de faltas e pênaltis todos os dias. Eterno ídolo brasileiro da Fórmula 1, Ayrton Sena também foi um atleta exemplar. Era impressionante a sua destreza nas pistas, principalmente pela velocidade com que entrava e saía das curvas. Diariamente, após os treinos normais, ele dava algumas voltas a mais para corrigir certas imperfeições.

Bruce Lee, ator, cineasta e lutador de artes marciais, certa vez disse: “eu não temo o homem que pratica 10 mil chutes uma vez, mas eu temo o homem que pratica um chute 10 mil vezes”. A repetição é a mãe da habilidade. Quando éramos crianças, fomos desenvolvendo a leitura aos poucos. No começo, íamos decifrando letra por letra até conseguirmos formar uma palavra. Depois, íamos decodificando palavra por palavra até entendermos uma frase completa. Com o passar do tempo fomos acelerando o processo até fazermos isso de maneira inconsciente. Para dirigir um veículo é a mesma coisa. No começo, temos medo do trânsito, nos embaraçamos nos pedais e na mudança de marchas, mas, aos poucos, vamos melhorando a habilidade até fazermos isso inconscientemente.

Certa vez, uma aluna de oratória perguntou-me: “quanto tempo vai levar para eu falar bem em público”? A resposta é simples: “o tempo que você quiser. Nunca fica mais fácil. Somos nós que melhoramos”. Quanto mais tempo nos dedicarmos a uma determinada tarefa, menos tempo leva para ficarmos melhores nela. Por isso, se desejamos melhorar a nossa performance de comunicação num processo de vendas ou numa apresentação em público, devemos treinar todo dia e também criar oportunidades para executar, pois de nada servirá muito preparo e treino se não houver aplicação prática. De que adianta um atleta treinar muito se não há competição? Qual a finalidade de uma banda ensaiar muito se não há show na agenda?

Há três maneiras de exercitar a nossa oratória: individualmente, diante de um pequeno público e para um público maior. Para treinar individualmente, podemos fixar na parede algumas fotos de pessoas conhecidas e simular a apresentação para essas pessoas. Devemos nos imaginar no palco e falar como se estivéssemos diante de uma plateia. Depois de algum tempo de prática, podemos nos apresentar para nossos familiares, para um grupo de amigos ou para pessoas que nos ofereçam feedbacks carinhosos e sinceros. É muito importante estarmos receptivos às críticas. Quando nos sentirmos mais à vontade, devemos buscar oportunidades de nos apresentarmos para os nossos colegas de trabalho ou para alguns colaboradores da empresa de algum amigo.

Em 2008, o jornalista e escritor canadense Malcolm Gladwell escreveu o livro Fora de Série, no qual apresenta a regra das 10 mil horas. Segundo ele, para virarmos especialistas em alguma coisa, devemos praticar essa “coisa” por cerca de 10 mil horas. Isso pode ser um exagero, mas é inegável que a prática constante pode nos levar à perfeição em qualquer atividade que nos propusermos a fazer. Sempre digo que, para ficarmos excelentes em oratória, devemos nos apresentar em público, pelo menos, umas 100 vezes. Cada apresentação é um passo para a excelência. E entre uma e outra, devemos treinar todo dia!           
      
 *O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.





 

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