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22/10/2019 às 08h47min - Atualizada em 22/10/2019 às 08h47min

Paes Leme

ANTONIO PEREIRA

Ignácio Pinheiro Paes Leme, carioca, engenheiro, nome da avenida que vai da Getúlio Vargas até a Minervina Cândida de Oliveira, foi o braço direito do Fernando Vilela nas suas atividades políticas e profissionais. Conforme destaca Lycidio Paes, numa de suas deliciosas crônicas, Fernando Vilela e Paes Leme eram personalidades muito diferentes, mas que se completavam. Vilela era pacato, voltado para a família, para suas atividades profissionais e religiosas. Paes Leme era extrovertido. Estava em todas e não preciso dizer mais nada. Conheciam-se desde o Rio de Janeiro, onde estudaram, não sei se foram colegas. Vilela, quando prefeito de Ituiutaba, levou-o para realizar obras pioneiras, a principal delas, a captação e distribuição de água potável, que foi o primeiro serviço público, nessa área, do Triângulo Mineiro.

Vilela veio para Uberabinha já disposto a construir uma estrada de rodagem saindo daqui e chegando a Itumbiara, passando por Monte Alegre e Tupaciguara, com ramal para Ituiutaba. Paes Leme veio junto. Seria o Diretor Técnico da Companhia Mineira Auto Viação Intermunicipal de Uberabinha. O projeto era do Vilela, as obras ficaram por conta do Paes Leme. Paes Leme tinha um automóvel, apelidado de “gafanhoto” porque pulava muito, que enfiava pelas estradas carreiras chegando às cidades que seriam beneficiadas pela estrada. Só havia dessas estradas, não só nos nossos sertões, mas no país inteiro. Onde o gafanhoto chegava, assustava o povo. Ninguém tinha visto aquela coisa estranha. Contam até que, em Monte Alegre, estava havendo uma procissão, quando o Paes Leme chegou. O povo largou os andores no chão e disparou. Só a interferência do padre acalmou o pessoal. Depois que sabiam a que vinha o engenheiro, a coisa mudava.

Em Ituiutaba, além da festa de dia, de noite ele dirigiu os trabalhos da Câmara Municipal. Paes Leme construiu sua casa no meio do cerrado. Quem se lembra do Liceu de Uberlândia? Aquele sobrado de frente para a praça foi a residência dele. Ele que construiu. Tinha suas iniciais no frontispício. De uma janela dos fundos, fotografou (ele era fotógrafo também), o Grupo Escolar Bueno Brandão. Entre a sua casa e o Grupo não havia nada, só mato. Fundou com amigos a Sparta Brazileira, primeira academia de ginástica e esportes da cidade. Há fotografias das práticas realizadas na Academia. Ficava, onde, anos depois, foi a oficina dos Crosara, do lado da Avenida João Pinheiro. Fotografou aspectos do Carnaval uberabinhense em 1922. Defendeu a bengaladas uma mulher que seria presa pela polícia a mando do delegado por despreza-lo e conviveu com ela por anos. Escreveu artigos para vários jornais, principalmente sobre a estrada, seu desenvolvimento, suas expectativas e seus resultados. Foi vereador. Deixou a Companhia em 1924, nomeado prefeito de Araxá. Casou-se no Rio de Janeiro com Maria Djalmira e deixou família conceituada em Uberlândia.

Na monografia “Munícipio de Uberabinha”, do cônego Pedro Pezzutti, inseriu um artigo dizendo que inaugurou o primeiro trecho da estrada no dia 7 de setembro de 1912. Contam cronistas e historiadores que a primeira estrada do Brasil foi a União e Indústria, de Petrópolis a Juiz de Fora. Que a segunda foi a do Vergueiro, de São Paulo a Santos. Esta tem uma longa história de transformações que começa em 1560. Foram estradas extraordinárias, bem construídas, com excelentes obras de arte, mas eram estradas para veículos puxados a animais, carroças, carroções, diligências, tílburis etc. Ainda nem havia o automóvel. Dizem ainda que a primeira a ser adaptada para veículos automotores foi a do Vergueiro, em 1913. Ora, se a estrada do Fernando Vilela foi inaugurada pelo Paes Leme em 1912 e já era uma estrada para automóveis, não ficam dúvidas: foi a primeira estrada para automotivos do Brasil. Tito Teixeira registrou em suas memórias que a Companhia Mineira Auto Viação Intermunicipal foi a primeira empresa registrada no Brasil para construir estradas de rodagem.

Estas e muitas outras informações sobre a rodovia do Fernando Vilela estão no meu livro, “Estradas pioneiras do Brasil”, que lançarei proximamente.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.





 

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