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16/10/2019 às 08h00min - Atualizada em 16/10/2019 às 08h00min

Crescimento x Aquecimento

EDUARDO MACEDO DE OLIVEIRA | SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL

Nos últimos anos, a questão do aquecimento global tem concentrado a atenção (e preocupação) da humanidade. Apesar da diversidade de opiniões dos cientistas quanto à ocorrência da elevação da temperatura e as suas consequências para o planeta, verifica-se, independentemente da elucidação das causas, uma significativa alteração das condições climáticas.

De norte a sul, leste a oeste, observamos fenômenos climáticos com intensidades e amplitudes nunca vistos, gerando graves consequências para a existência e sustentabilidade da vida no planeta.

Neste contexto, dois aspectos importantes merecem análises e debates urgentes. O primeiro refere-se às consequências das mudanças climáticas às democracias atuais. O filósofo francês Dominique Bourg, em entrevista recente ao jornal Folha de S.Paulo (edição do dia 06/12/09) alertou sobre o risco das crises climática e energética às democracias. A sua tese: diante da penúria, violência e as mudanças abruptas e drásticas de todo o tipo, governos autoritários teriam mais aptidão para resistir e administrar, “em outros termos, ou as democracias mudam, reintroduzindo o primado do coletivo diante de um hiperindividualismo consumista (insustentável) ou eles tenderão a se apagar diante dos regimes autoritários” (idem). Cita um dilema explicitado pelo também filósofo Jean-Pierre Dupuy: “ou preservamos, como valor supremo, a igualdade entre os homens – mas esse valor não poderá ser suportável pelo planeta, ou então, decidimos seguir com nosso modo de vida atual – mas então deveremos renunciar à igualdade universal entre todos os homens” (ibidem).

O segundo aspecto, não menos importante, refere-se à relação entre o crescimento econômico e as mudanças climáticas. Segundo a professora Leda Paulani (USP) “A lógica do sistema capitalista é contrária a qualquer uso racional dos recursos naturais, simplesmente porque, para o sistema, quanto mais vende melhor. Mesmo para o trabalhador isso também é verdade, pois o emprego depende disso. Na realidade, a vida da maior parte das pessoas do planeta depende do sucesso dos negócios capitalistas.”(Instituto Humanitas Unisinos, 22/12/09). E acrescenta: “Como se acomoda a lógica do sistema capitalista, levando em conta o capitalismo global, com a finitude dos recursos do planeta? [...] Dada à forma que a sociedade se organiza hoje, se simplesmente desacelerar o crescimento no mundo todo, bilhões de pessoas serão jogadas na miséria. É uma contradição enorme. Como vai se defender, num país como o Brasil, que o país não cresça mais? E os milhões e milhões de pessoas que não têm outro jeito de viver a não ser arrumando emprego? Este é o grau da contradição”.

Em 2009, durante o transcorrer da crise econômica, o governo federal adotou medidas compensatórias, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos automotores. É um exemplo que indica a contradição entre o crescimento e a necessidade de se tornar o planeta sustentável. Mais carros, mais poluição, mais gases do efeito estufa e entramos num ciclo vicioso. Será possível manter os empregos numa taxa aceitável reduzindo o crescimento econômico?

Em síntese, uma situação extremamente complexa e desafiadora. Vivemos num mundo de perguntas fortes e respostas fracas. Teremos a sabedoria para romper esta imensurável e decisiva contradição? Feliz 2020!

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.






 

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