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06/10/2019 às 07h50min - Atualizada em 06/10/2019 às 07h50min

Surte!

KELLY BASTOS (DUDI)

O fingimento é uma tática de sobrevivência. Até que ponto suportamos fingir?

Dê uma boa olhada em você no espelho, mire-se por algum tempo. O que você vê? Você se agrada da imagem refletida? Qual imagem você acha que passa para as pessoas? Você acha que está enganando a si mesma ou aos outros? Já se perguntou por que você precisa vender uma imagem de “olhe para mim, olhe para minha vida, estou radiante”, sem estar de fato assim?

Após se fazer essas perguntas, você vai começar a entender o que está realmente acontecendo dentro de você. Parece bobeira, mas, acredite, é um exercício poderoso.

Por que fingimos quando queremos, na verdade, surtar? Simples. Porque a arte do fingir nos é imposta a todo instante. Fingimos para ter o famoso traquejo social. “Sincericídio” nos levará ao limbo do ostracismo carnal e você logo estará cantando “Help”, dos Beatles, não por ser fã da banda, mas por ser mesmo um pedido de socorro. Disfarçado, claro, porque você tem uma imagem a zelar, afinal, onde já se viu, você, pessoa bonita, resolvida, estar deprê? Jamé, mon cherie! Nego, nego, nego! Surtar é coisa de fracote!

A verdade nua e crua é igual à que o Dr. House, da série homônima, dizia: “Todo mundo mente”.

Pense comigo: há coisa mais estúpida do que dispensar alguém que a gente ama, por exemplo? Não, né? Porque aí, você, poço de fortaleza, praticamente a Dracarys, de “Game of Thrones”, começa a desmoronar emocionalmente ao perceber que não é tão forte quanto achava que era, e se vê impotente mas, ao mesmo tempo, não quer dar o braço a torcer, por orgulho. Vou lhe enviar a real inbox, sugar: não vai colar.

Sobre esse assunto, uma amiga, quase irmã, me disse:  “Ano passado, metade do mês de fevereiro, eu já não aguentava mais me olhar no espelho. Eu realmente tinha repulsa da mulher que me tornara. Eu, acordada na repulsa, banhava-me na negação, comia, assistia à televisão na mais perfeita mentira. Eu parecia miss, sabe? Só sorria, concordava com a cabeça e acenava. Fazia parte da terrível estatística: vida medíocre, porta-retrato perfeito. Por longos 13 anos, eu forjava felicidade. Olha que patético! Fake, fake, fake!”

Você finge que gosta daquele mala do escritório por educação, finge que gosta de pagode para agradar o boyzão, finge que teve prazer para enaltecer o ego do babacão, finge que gosta de acordar todo dia, às 5h da matina, para fazer um trabalho com o qual você não tem mais paciência, que o faz ralar igual a cavalo de tração e ganhar igual a um estagiário necessitadão de uma promoção.

Finge que não vê a falsidade que brilha no rosto daquela velha conhecida, que não chora à noite na pia da cozinha lavando a prataria, que superou o boy magia que desfila sorridente nas redes sociais todo dia com aquela guria atrevida. Afinal, ela não tem com ele a química que você tinha.

Você passa por dias de chuva, noites de luar, ouve o namorar dos gatos da rua… E você fica o quê? “P” da vida! Mas, tenha calma, filha, recomponha-se e se segure! Lugar de menina bonita, do laço de fita, é na alta postura. Então, fique na sua, reprima-se, não seja Menuda.

Freud sempre defendia: “Volte seus olhos para dentro, contemple as próprias profundezas, aprenda primeiro a conhecer-se, então compreenderá por que está destinado a ficar doente e, talvez, evite adoecer no futuro”. Viu?

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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