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18/09/2019 às 08h16min - Atualizada em 18/09/2019 às 08h16min

Síndrome de Barrichello

FERNANDO CUNHA

Na manhã de 12 de maio de 2002, durante o Grande Prêmio da Áustria de Fórmula 1, a nação tupiniquim acompanhava Rubinho Barrichello pela TV, então líder da prova, em busca de sua segunda vitória na categoria. Já bem próximo à linha de chegada, o piloto da Ferrari é orientado pelo rádio a deixar que o seu companheiro de escuderia, o alemão Michael Schumacher, o ultrapassasse e vencesse a prova pela sua 58ª vez, o que gerou inúmeras vaias nas arquibancadas e uma indignação geral da torcida brasileira. Como sinal de reconhecimento (ou protesto), Schumacher decide oferecer o troféu a Rubinho e dividir o primeiro lugar do pódio com ele. Barrichello, pelo menos naquele momento de sua carreira, não tinha a mentalidade de um verdadeiro campeão. Inclusive, no ano anterior, o jornal inglês The Times estampou uma frase dizendo que “a Ferrari dele parece estar permanentemente com o freio de mão puxado”, resumindo o que o mundo todo pensava sobre o principal piloto brasileiro da F1 daquela época.

Quantos de nós não agimos da mesma forma em nossa vida profissional? Quando pensamos em acelerar e cruzar a linha de chegada em primeiro lugar tiramos o pé do acelerador e deixamos outra pessoa se destacar em nosso lugar. Quando o assunto é apresentação em público, então, nem se fala! O pensamento de que tudo vai dar errado parece ter mais força do que certeza do sucesso. Preferimos abrir mão das oportunidades. Talvez por insegurança, timidez ou pavor de expressar verbalmente deixamos outras pessoas fazerem o que nós deveríamos estar fazendo. A sensação de impotência depois de uma chance perdida nós já conhecemos, não é mesmo? Uma frase atribuída a Nelson Mandela diz que “conforme deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente, damos às outras pessoas a permissão para fazer o mesmo. E, conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, liberta os outros”. Mas não é o que fazemos.

Sempre ouço reclamações de pessoas que "tremem nas bases" quando tem que fazer um discurso, apresentar um projeto, conduzir uma reunião e, por isso, não o fazem. Elas não percebem que esse tipo de comportamento, "travado", tira delas inúmeras oportunidades no trabalho e também na vida pessoal.  São vítimas da "Síndrome do Freio de Mão" ou “Síndrome de Barrichello”, como alguns preferem chamar. A pessoa quer deslanchar, mas algo fica segurando, inclusive na hora de fazer novas amizades e paquerar. Alguns especialistas apontam que, o entrave pode estar em nossa mente, especificamente em nosso subconsciente. Sem que tenhamos consciência, uma espécie de mecanismo de defesa nos conduz à derrota. E isso vem desde a infância.

O preparador físico e mental Nuno Cobra, autor do best seller A Semente da Vitória (Editora Senac) e ex-mentor do tricampeão mundial de F-1 Ayrton Senna, diz que “por causa da educação tradicional dada pelos pais, as pessoas, com raríssimas exceções, tornam-se perdedoras ao longo da vida”. Ele afirma que os pais destacam mais os erros dos filhos para que eles não voltem a cometê-los. Isso, segundo Cobra, desencadeia um efeito reverso. Nuno defende a tese de que, se as crianças recebem estímulos positivos quando pequenas, crescerão mais confiantes. Mas, já que não somos mais crianças, o que podemos fazer para reverter esse quadro agora? Muita gente acredita que se apresentar em público é difícil, mesmo que seja para uma plateia pequena. Mas, com o uso de técnicas específicas, uma estrutura bem definida, um roteiro bem desenhado e algum tempo de prática isso deixa de ser um problema.

Devemos praticar a nossa mentalidade de campeão. E como fazer isso? “O Ayrton tinha a visão da vitória”, diz Cobra. “Antes das largadas, ele se concentrava e fazia mentalmente todo o trajeto da pista. Imaginava-se fazendo grandes ultrapassagens, trocando as marchas e cruzando a linha de chegada em primeiro lugar. Quando isso não se concretizava, não se lamentava. Não importava se o pneu tinha furado na última volta ou se a gasolina tinha acabado uma curva antes da bandeirada final. Imediatamente começava a pensar na próxima corrida e no que precisava mudar para vencer. Não era uma atitude mental de submissão, de derrota”. Da mesma forma, devemos mentalizar o sucesso de nossas apresentações em público. Experimente visualizar você subindo ao palco, sinta mentalmente as pessoas prestando atenção em suas palavras e, claro, aplaudindo você ao final. As coisas também podem dar certo, sabia? Vá lá e arrebenta!

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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