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06/09/2019 às 08h45min - Atualizada em 06/09/2019 às 08h45min

Tchau, Kiara

CELSO MACHADO

Neste domingo a nossa cachorrinha de estimação que há 15 anos fazia parte da nossa vida nos deixou. Não vou fazer comparações porque não faz sentido. Mas é chato, muito chato. A gente sente uma coisa ruim, um buraco dentro de nós. Todo afeto, carinho, atenção tem significado especial. Perder frustra. Pessoas próximas sabem que não queria ter um animal doméstico em casa. Cheguei até a ser indelicado quando recebia alguma proposição nesse sentido.

Até que, quando nossa filha ia fazer 15 anos, uma amiga muito querida a presenteou com uma cachorrinha recém-nascida. Como não quer nada, e talvez não quisesse, ela foi conquistando a todos, eu inclusive. Passou a fazer parte da casa, direcionando atenções e alegrando a todos. Participativa e brincalhona correspondia qualquer gesto de afeto.

Quando estive doente e necessitei ficar uns dias em casa, era minha companheira permanente. Não só ficava ao meu lado, mais que isso, gostava de encostar no meu pé como estivesse dizendo, “olha eu aqui”, totalmente dedicada em me fazer companhia. Quando alguém me questionava porque era contra e depois passei a “paparica-la” respondia mineiramente: nunca falei que não gostava, falei que não queria o que é bem diferente.

Relutei porque não estava disposto a ter que cuidar de mais um integrante da casa. E também para não criar laços de afeto que depois do tempo relativamente curto de vida de um animal doméstico, enfrentar sua perda. Como é comum na minha vida estava totalmente equivocado. Ainda que esteja sendo sofrido lidar com sua partida, tudo que ela nos proporcionou nestes 15 anos compensou demais.

Todos estamos muito tristes e sei que nossa filha mais ainda. Vai demorar um tempo para acostumar com sua ausência, não vê-la no cantinho onde dormia todos os dias, não tê-la nos esperando quando chegamos em casa e logo vindo ao nosso encontro. Toda perda só tem significado quando a riqueza da posse a torna dolorida. A tristeza de perder só acontece com aquilo que tem grande valor e relevância pra gente.

Interessante é que para cada um de nós ela tinha um jeito específico de agradar. Para um, era correndo atrás de uma bola; para outro, subindo no sofá e se aconchegando no colo, e por aí afora. A levamos em muitos e diferentes passeios. Onde fosse, com quem convivia recebia e oferecia alegria. No condomínio em que moramos era comum crianças e adultos pararem para brincar com ela.

Teve um amor platônico por outro cachorrinho, que quando encontrava fazia uma algazarra. Percebia sua presença com dezenas de metros de distância. Uma vez por semana, as segundas à tarde, seu coração batia acelerado e seu corpo tremia apavorado porque era a hora do banho. Depois cheirosa e aliviada gostava de desfilar sua beleza e charme balançando os pelos soltos e limpos.

Ouvi de um amigo o que também pode parecer uma heresia, mas não acho: disse-me ele que tem momentos em que um animal de estimação é melhor do que um ser humano. Se você está triste ele vem brincar com você e daí a tristeza passa. Se fosse uma pessoa ia te encher de perguntas que certamente não seriam de respostas fáceis. Ele é solidário e amigo que te entende, sem precisar saber o que estamos passando.

Não quisemos nos separar dela. Decidimos e nós mesmos buscamos um lugarzinho muito especial em nosso jardim onde agora passa a morar. Para sempre. Ali certamente vão nascer flores lindas e encantadoras, como as lembranças que ela foi tão generosa em nos oferecer nestes benditos 15 anos.

Tchau, Kiarinha. Tchau, bebê.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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