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22/08/2019 às 08h09min - Atualizada em 22/08/2019 às 08h09min

Liberalismo, anarcocapitalismo, evangelismo

JOÃO BATISTA DOMINGUES FILHO

Antirrepublicanismo do autocrata Bolsonaro na Presidência da República Federativa do Brasil é escandalosamente verdadeiro: sabotagem institucional sistemática com discursos e práticas retaliatórias contra os princípios inscritos na Constituição Federal de 1988. Age para tornar inefetiva a CF/88 com um mosaico de desatinos em sua governação presidencial, cuja degeneração de espírito se orgulha de ter, dada a legitimação eleitoral, em pleito referendado pela Justiça Eleitoral. É o chefe do Poder Executivo, não se submetendo aos caprichos do Congresso Nacional. Berra da Presidência: “Não peço, mando. Por isso que sou presidente.” Miguel Reale Jr.: “Bolsonaro vive no habitat horrendo do mundo das trevas em processo alucinatório no qual prejudica a si mesmo.” Nada disso lhe retira a capacidade para continuar na Presidência da República do Brasil. Orgulha-se de atentar contra a moralidade e impessoalidade (art. 37). Capitão-presidente populista e antidemocrático é o único representante do povo e a oposição é inimiga da pátria. Viola a Constituição Federal de 1988 quando diz o que pensa. Rafael Mafei Rabelo Queiroz constata: “Bolsonaro acha que faz bem ao trazer seu estilo para a Presidência da República. Inadvertidamente, inaugurou a era da inconstitucionalidade-ostentação.” (FSP/Ilustríssima/18-08-2019-07). Governança iliberal para o Brasil, com possibilidade de capitulação do STF, sem aparato coativo, sem fontes dos seus recursos orçamentários, sem liderança exemplar e sem apoio popular. Daí Bolsonaro e seu filho Eduardo acreditarem que precisariam somente de “um cabo e um soldado” para fecharem o STF para a felicidade da Nação, dado que Judiciário protege bandidos e Congresso só tem políticos corruptos.

Se os recursos são econômicos, mas as decisões são políticas, a MP da Liberdade Econômica pode incinerar a capacidade regulatória do Estado brasileiro, eliminando quaisquer freios ao abuso do poder econômico. É o anarcocapitalismo do Paulo Guedes, com mudanças dos princípios constitucionais que emolduram as atividades econômicas. Fim do Estado regulador, fiscalizador e planejador da economia brasileira, conforme (art.174). É o delírio do anarcocapitalismo da Presidência Bolsonaro: o desenvolvimento do capitalismo no Brasil depende do fim do Estado na economia, desprezando majestaticamente o artigo 219 da CF/88: “O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e socioeconômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do país, nos termos da lei federal.” Para Maria Cristina Fernandes: “Instintos primitivos do capitalismo bolsonarista. Para barrar a MP, o Supremo teria que fazer uma inflexão na toada liberal que vem marcando a atuação da corte nos últimos tempos.” (Valor/ 15-08-2019-A14). Mundo encantado da Presidência: capitalismo desenvolvido é resultante de contratos econômicos entre iguais, sem abuso do poder econômico.

Presidência iliberal anarcocapitalista tem em sua governança um inimigo mais eficaz que o STF talvez seja: as Igrejas Pentecostais. Há no Brasil 1.500 denominações evangélicas. 2016/Datafolha: três pessoas em cada 10 no Brasil, com mais de 16 anos são evangélicos: 29% da população brasileira. Assembléia de Deus (34%), Iurd, Congregação Cristã e Quadrangular do Reino de Deus não podem obedecer ao Céu e inferno ao mesmo tempo. Os representantes de Deus na política (Presidência e Congresso) são fiéis das suas Igrejas que são responsáveis por trabalhos de proteção social. São práticas caritativas com os excluídos: moradores de rua, pacientes de hospitais públicos, caminhoneiros, presidiários, dependentes de álcool e drogas, prostitutas, travestis e policiais. Presidente Bolsonaro incluiu Deus em principal slogan de campanha e foi batizado por Silas Malafaia no rio Jordão. Cercou-se de um staff pentecostal na Presidência. Alimenta os brasileiros com discursos de ódios contra liberdades pessoais e minorias. Presidente Bolsonaro é governante iliberal e anarcocapitalista. As Igrejas Evangélicas neopetencostais apoiaram fortemente a candidatura de Jair Messias Bolsonaro nas eleições de 2018. José de Souza Martins: “A conduta do presidente eleito, no tocante às políticas sociais, vai na direção oposta à da igreja que lhe concedeu o crédito de um apoio decisivo. As falas impregnadas por uma raiva antibíblica e anticristã, contrariam o que todo evangélico sabe “Deus é amor” (IJoão, 4:8)”.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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