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21/07/2019 às 08h00min - Atualizada em 21/07/2019 às 08h00min

Remédios: das pesquisas ao paciente leva tempo!

ANGELA SENA PRIULI
Na última semana, nosso Ministério da Saúde suspendeu a parceria com algumas indústrias farmacêuticas nacionais que desenvolvem e produzem medicamentos para pacientes com hepatite, diabetes, doenças autoimunes, etc. Claro que há um caos gerado em torno dessa decisão, mas gostaria de aproveitar o tema para te contar sobre o tamanho esforço de pesquisadores, o investimento, o uso de cobaias e o voluntariado de humanos para que um "remédio" que trata doenças crônicas tão sérias seja desenvolvido.

Teoricamente, os problemas "fáceis" - como a maioria das doenças infecciosas -, na farmacologia foram resolvidos. O que resta são os problemas difíceis, como drogas para transtornos mentais e câncer. Para esses problemas, nós ainda não entendemos completamente os mecanismos, então desenvolver drogas contra eles e testá-los é como atirar uma pedra no escuro e esperar que ela atinja uma garrafa a 20 metros de distância.

Tudo começa pela pesquisa. Atualmente, a indústria farmacêutica está se afastando do rastreamento de compostos biológicos. Estes são compostos que são produzidos por um animal, planta, fungo, bactéria ou vírus para matar outros seres vivos ou se defender. Por causa das funções endógenas desses compostos biológicos, eles são adequados para entrar "tranquilamente" em outro ser vivo e ter efeitos sobre eles. No entanto, os milhares de compostos químicos mais frequentemente usados para desenvolver novas drogas não têm a capacidade intrínseca de entrar em sistemas biológicos. Então, um problema atual é que às vezes as empresas farmacêuticas encontram compostos que têm uma ação em direção ao seu alvo, mas não podem transformá-lo em uma pílula ou tornar o composto estável o suficiente dentro do corpo e assim tantos compostos de drogas potenciais recentemente descobertos são descartados e acabam não sendo testados em animais e humanos.

Como podem ver, o processo de descoberta de drogas é longo, depende de escolhas e racionalização, levando em média 12 anos e um investimento de 2,6 bilhões de dólares!

As técnicas modernas de biotecnologia já encurtaram os estágios iniciais do desenvolvimento de drogas, mas antes que qualquer teste em humanos possa ser feito, a droga deve ser mostrada como muito promissora e não ser tóxica para os seres humanos. As aplicações para teste de drogas levam tempo porque são cuidadosamente revisadas. Os testes em humanos demoram muito: há três fases antes que uma droga possa ser aprovada pela Anvisa ou por qualquer outra agência reguladora de medicamentos.

Cada uma dessas fases de testes leva de meses a anos e envolve extensas observações e testes, para garantir que o medicamento não tenha efeitos colaterais muito ruins e que funcione melhor do que o que já existe no mercado. Além disso, encontrar e recrutar populações-alvo para a droga também leva tempo, especialmente se for uma doença rara.

Eu, como alguém que teve experiência na ciência, vejo todo esse processo como algo incrível, mesmo que seja longo, e o mais relevante de tudo é que salva ou mantém a qualidade de vida de milhões de pessoas. Então, entender como o cenário político-econômico influencia nisso tudo faz parte de nosso papel de cidadãos.

Sigamos como humanos curiosos e podemos contribuir mais do que imaginamos para nossa sociedade, em vários sentidos. =)


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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