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10/07/2019 às 08h26min - Atualizada em 10/07/2019 às 08h26min

Em alto e bom tom

FERNANDO CUNHA

Em meados da década de 1980, três jovens, cansados de uma rotina sem graça na escola, resolvem matar aula por um dia inteiro e sair pelas ruas de Chicago curtindo a vida adoidado. Aliás, esse é o nome do filme (Curtindo a Vida Adoidado – 1986) protagonizado por Matthew Broderick, no papel de Ferris Bueller, um jovem de família rica que, junto com os colegas, saem pelas ruas da cidade dirigindo uma Ferrari tomada emprestada às escondidas. Se você é da minha geração deve ter assistido ao filme. Uma cena que me chama a atenção é a de um professor de História que tenta ser enfático em sua aula sobre o contexto da crise de 1930, mas não consegue contagiar a turma. O discurso dele é totalmente desprovido de energia verbal e, mesmo assim, acredita estar fazendo bem o seu papel. Porém, o que se vê são estudantes desmotivados dormindo nas carteiras.

Quem nunca quase dormiu (ou dormiu) em sala de aula diante da apresentação monocórdia de um professor ou de colegas de classe? Aposto que você já ficou entediado com um discurso sem graça do chefe na convenção da empresa ou cochilou numa pregação fria e sem emoção do padre ou do pastor! Quem de nós não fica irritado com um discurso prolixo e maçante do chefe numa reunião? Já percebeu que os filmes e séries sem graça não têm variações auditivas? E quando ouvimos aquele tipo de música que não tem refrão? Dá sono! E você? Quando vai se apresentar ou fazer um discurso, é eloquente o bastante para levantar o astral da plateia ou acredita que pode ser melhor?   
   
Tenho quase certeza que você já ouviu falar ou já viu a pequena Sofia Balogh, uma linda garotinha que conta histórias, recita trechos bíblicos e transmite mensagens positivas na internet. Não há aquele que não se encante com Sofia logo na primeira visualização. Ela tem uma extrema capacidade de entonar a voz para gravar os seus vídeos, diferentemente daquele professor fictício do filme. Sofia faz pausas nas horas certas, coloca ênfase nas palavras-chave de seu texto, sorri muito, explora as expressões faciais e interage o tempo todo com a sua audiência. A sensação que temos é de que ela está conversando conosco frente a frente. Pela sua desenvoltura e naturalidade, percebe-se que ela nasceu para isso.

Estes dois exemplos tão diferentes servem para destacar um dos pontos fundamentais para qualquer pessoa que deseja ser bem-sucedida lendo um texto em voz alta em público ou em vídeo: a ÊNFASE! A leitura de um texto exige uma certa pitada de emoção e, quando conseguimos isso, a nossa audiência se envolve com a essência daquilo que estamos realmente transmitindo. Se prestarmos mais atenção aos apresentadores de rádio e pastores evangélicos podemos observar que uma boa entonação de voz é mais eficaz do que um timbre agradável. Foi-se o tempo em que uma voz grave era sinônimo de comunicação envolvente. Qualquer pessoa pode encantar a sua audiência se usar algumas técnicas de ênfase na leitura de um discurso, notícia ou pregação.

O primeiro passo é ler em voz baixa o texto que irá proferir e marcar as palavras-chave, ou seja, aquelas palavras que possuem maior importância para a sua audiência. Por exemplo, na frase “o presidente aprovou medidas polêmicas para incentivar o crescimento econômico”. Se for dita a correligionários de partido do presidente, a palavra “presidente” mereceria uma ênfase maior. Caso seja proferida para as pessoas que aguardavam ansiosamente pela aprovação das medidas, a palavra “aprovou” ganharia destaque. Para os opositores do presidente, a ênfase nas palavras “medidas polêmicas” geraria mais impacto negativo sobre a decisão dele. E por aí vai! Experimente ler a frase acima colocando ênfase em palavra por palavra. Você verá que ela muda completamente de sentido quando mudamos a palavra enfatizada.

Muita gente acha que ler um discurso, uma pregação ou notícia com eloquência e firmeza é algo difícil. Pode até ser, mas com o conhecimento de técnicas isso se torna bem possível. É isso que oradores e apresentadores profissionais fazem. Preste atenção nos âncoras de telejornais. A ênfase nas frases deve estar justamente nas palavras-chave que transmitem a linha editorial do veículo de comunicação. Em sua próxima leitura ou apresentação em público, ou na gravação de um vídeo, marque nas frases as palavras que merecem destaque e lhes dê a devida ênfase na hora de pronunciá-las. Você perceberá que o seu discurso terá outro sentido para os seus ouvintes, inclusive para você mesmo.                
 

 

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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