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11/06/2019 às 08h21min - Atualizada em 11/06/2019 às 08h21min

O casamento do Zeca Teixeira

ANTONIO PEREIRA
José Teixeira de Sant’Anna, nascido em Cláudio, Minas Gerais, foi o quarto Agente Executivo (prefeito) de São Pedro de Uberabinha, de 1901 a 1903. Foi um profissional múltiplo, rábula, farmacêutico provisionado, jornalista, músico, cometa (caixeiro viajante), escriturário, guarda-livros, promotor, poeta e dramaturgo, e não sei mais o quê. Chegou a Uberabinha em 1889. Estabeleceu-se com farmácia por longos anos no Largo da Matriz (praça Cícero Macedo).

Dele se contam histórias curiosas, dentre elas a de seu casamento. Ele era “cometa” de um atacadista do Rio de Janeiro para as praças do Sul de Minas e Triângulo Mineiro. Passando por Uberabinha, aproveitou para visitar parentes que conhecia pouco. Hospedou-se na casa do primo “Bem das Aroeiras” (Joaquim da Fonseca e Silva) – tronco inicial da família Fonseca nesta cidade. Encantou-se com a beleza e a graça da prima em segundo grau, “Chiquinha do Bem” (Francisca Augusta da Fonseca). E, ao invés de ficar dois dias, como programado, ficou uma semana. Em seguida, foi-se com a comitiva. Dois meses depois voltou ansiado para rever a prima. Tudo ia bem com os dois até que apareceu um terceiro, o Carlos Ribeiro de Vasconcelos, fazendeiro, também conhecido por “Carrinho Lotério”, que desconhecia o namoro. Carrinho era tímido. Sabendo da familiaridade do Zeca com os Fonseca chamou-o em particular e pediu-lhe um grande favor. O Zeca, solícito, dispôs-se a ajudar o amigo.

Muito simples, o Carrinho, confessando-se sem jeito e apaixonado pela Chiquinha, solicitou-lhe que, em seu nome, fizesse o pedido de casamento. O Teixeira até gelou, engoliu em seco, mas tinha se comprometido. E pôs-se a matutar de que forma se desincumbiria da promessa sem prejudicar o seu romance. Não achava modo. E empurrava o Carrinho com a barriga. O que ele não queria era magoar o amigo. Lá um dia decidiu-se e foi falar com o Bem das Aroeiras. Bom de papo, contou claramente o seu drama que o sogro ouviu dando gargalhadas. E fez, de fato, dois pedidos: o seu e o do Carrinho. Fonseca respondeu que quem resolveria a enroscada seria a Chiquinha e acreditava que ela o escolheria. Em todo caso, antes, falaria com a prima Ritinha (esposa dele, Rita Umbelina dos Santos). Ao despedirem-se, Bem bateu no ombro do Zeca e pediu-lhe que voltasse no dia seguinte. Zeca Teixeira não dormiu. Passou a noite pitando cigarrões de palha. Cedinho aprontou-se para a solenidade: terno de linho S 120 e chapéu do Chile com abas arrebitadas.

O Bem das Aroeiras esperava-o com a boa notícia:
- Não falei? Você foi o escolhido! E, agora, como é que vai fazer com o Carrinho?

Nova situação incômoda. Outra noite sem dormir queimando palheiros. Zeca preparou como prólogo da informação um longo discurso que desaguava numa rápida estocada final. E foi assim que fez. Carrinho Lotério, ao ouvir-lhe a má notícia, desolado e vencido, só teve uma saída: montar no pampa e voltar calado para a fazenda.

Muitos anos depois, dois amigos conversavam em Tupaciguara e um deles, o velho Carrinho Lotério disse para o seu interlocutor: “Quase que você é meu filho!” O parceiro de prosa era o farmacêutico (depois médico – presidente da Sociedade Médica de Uberlândia) dr. Longino Teixeira, que estranhou aquela conversa. E o Carrinho debulhou o velho drama. Foi assim que a história pitoresca desse romance não se perdeu, porque o dr. Longino fez um registro familiar do acontecido.

Mas não ficou só nessa comédia o casamento do Zeca Teixeira. Depois de acertado o melodrama, a personagem principal ainda teve umas trombadas com o vigário João da Cruz Dantas Barbosa (o da rua Vigário Dantas). Depois eu conto.



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