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02/06/2019 às 08h00min - Atualizada em 02/06/2019 às 08h00min

Guns sem roses

WILLIAM H STUTZ
Desculpe-me a língua de Cecília Meirelles, Guimarães Rosa, Pessoa e seus heterônimos e tantos e tantos por usar um título em dialeto alienígenas e ainda sobrenomes de nobres estrelas do rock, mas o momento assim o pede ou me impeliu.

Já teve sua dengue do ano? Se não teve, vai ter. Juro que não é praga. Bom, a dengue é uma, mas não é o que desejo, nem para os inimigos da filosofia e da cultura, que estas semanas devem estar se roendo de inveja do gênio Chico Buarque de Holanda, que acaba de receber o consagrado Prêmio Camões 2019. Lembrei de música do mestre com endereço certo: “ Você não gosta de mim, mas sua filha gosta…” Bem que poderia canta assim hoje: vocês não gostam de mim, mas a lingua pátria gosta! Viva Chico!!!

Sorte Ele não ter inventado mais uma para jogar nas costas dos egípcios. Pense bem, transformar a água do rio Nilo em sangue, depois invasões de rãs, piolhos, moscas, morte do gado, chagas, chuva de pedras, nuvens de gafanhotos, trevas e morte dos primogênitos. Só faltou uma epidemia de dengue como a nossa para Ramsés II ir à loucura absoluta. Perder de vez o juízo em uma maca no corredor de alguma UPA, UAI ou PS e despachar o povo hebreu para lá de Marrakech. Mexe qualquer coisa dentro, doída. Ah Caetano, sei onde foi buscar inspiração! Dengue poderia ter sido a oitava praga. Afinal, o Aedes não é do Egito, grafado a bel-prazer dos sistemátas?

Voltando à dengue. Foi tão brava que saiu de uma meia-lua de frente e me tonteou com um martelo. Vi chão depois de um rabo de arraia e deitei na poeira do terreiro com uma benção certeira no peito. Só levantei semana e meia depois.

Não tive alternativa. Tentar ler, olhos doíam. Dormir? Mas, como? E sono vinha? Deixei-me frente a uma televisão e, para mal dos pecados, vi todos os jornais, de todos os horários. Repetição sem fim das mesmas notícias. A mais terrível delas, se é que existe um medidor de terror para certos governos, foi o decreto da liberação da compra de armas, incluindo fuzis semi-automáticos, acho que esses tiraram, mudam de ideia para variar.

Esse encanto pela cultura norte-americana tem que ter uma explicação no mais raso dos livros de psiquiaria. É insanidade sobre outra todo dia. O Mourão deve sofrer horrores para corrigir os devaneios do capitão. Levar a Embaixada Brasileira para Jerusalém. Liberar caça, agora as armas. Um detalhe, os poucos que leram o decreto devem ter tomado um susto, pois liberou o fuzil, mas a munição continua proibida. Que espetáculo! O cara compra uma arma superletal, mas só pode usar como peso de papel.

Um exercício rápido. Já pensou quando tudo estiver do jeito que a Taurus gosta? Consegue desenhar um encontro de torcidas organizadas depois de um Corinthians e Palmeiras, em que um dos times perdeu para o VAR, que validou gol impedido devido ao toque de mão de um deles?

José Mauro de Vasconcelos, em um “stand up”, se apresentava em pé, lógico, sem acessórios, cenários, caracterização, personagem ou o recurso teatral da quarta parede, usado em monólogos tradicionais (viva a pesquisa, viva bons tempos de coxia). Mas, eram outros tempos e o cara sabia se postar frente ao microfone e fazer graça, sem que inventassem nomes esquisitos para sua performance. Ah, nem! Que “istandeupi” que nada!

Certa vez, José Mauro em um de seus shows solo (gostei – show solo), contou uma passagem de sua infância, que mais atual impossível: Quando era menino, em seu aniversário de treze anos, seu pai lhe deu um revólver de verdade. E arremata, era o único menino da rua a possuir um revólver de verdade. Duas semanas depois era o único menino da rua.

Mais uma vez peço desculpas a Slash, Axl Rose e turma. Mais Roses, menos Guns, pelo menos fora do rock. Saudades dos tempos de Woodstock.  Pelo menos por alguns dias Bethel foi a capital da Paz e do Amor.

Vai um T4 semiautomático, calibre 5,56, de presente de inimigo secreto no Natal?


*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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