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08/05/2019 às 08h33min - Atualizada em 08/05/2019 às 08h33min

Conexão com o público

FERNANDO CUNHA | JORNALISTA E PALESTRANTE
Enquanto o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fazia um discurso para as mulheres mais poderosas do país durante um evento promovido pela Revista Fortune em 2010, na capital estadunidense, o selo presidencial caiu do púlpito. O fato tirou risadas do público quando Obama brincou com a situação, dizendo: “isso não é necessário, pois todos sabem quem sou eu”. Em outra ocasião, durante visita ao Brasil no ano de 2011, Obama iniciou o seu discurso no Rio de Janeiro falando em língua portuguesa e usando a expressão “alô, cidade maravilhosa”, entre outras, o que tirou aplausos eufóricos do público. Após um massacre ocorrido em 2015, em Charleston (Carolina do Sul), Barack Obama iniciou o seu discurso no velório das vítimas cantando Amazing Grace, canção de Celtic Woman, o que levou familiares e parentes das vítimas ao delírio.

Estas três situações, entre tantas outras, servem para exemplificar o quanto Barack Obama não era só admirado e elogiado pela sua competência como estadista e pelas suas habilidades para articulações políticas, mas também pela sua grande capacidade de criar conexões com os diferentes públicos para os quais discursava. Um grande diferencial dos grandes oradores em relação aos palestrantes medíocres é essa capacidade de criar conexões com a plateia antes, durante e depois de suas apresentações. Quem nunca foi a uma palestra e, logo no início, se exaltou quando o orador destacou características positivas do público e da cidade que o recebia naquela ocasião? Quem nunca ficou feliz ao poder tirar uma foto com o palestrante ao final do speech?

Quando surge a oportunidade de se apresentar em público, muitos profissionais, executivos, CEOs e figuras públicas se esquecem de criar conexões com a plateia antes de começar o seu discurso, talvez por esquecimento ou por que não acreditam que isso seja importante. Muitos se escondem no camarim aguardando a hora de subir ao palco, outros iniciam sem cumprimentar as pessoas ou fazer os agradecimentos necessários. Tem aqueles que partem em retirada sem dar a devida atenção ao público logo que acaba a palestra. Pessoas se conectam com pessoas e quando o apresentador, seja ele um estudante, um líder de uma empresa ou um palestrante renomado, se esquece destes detalhes pode comprometer a apresentação.

O segredo dos grandes oradores está, justamente, na capacidade que eles têm de se conectar com diferentes plateias. Seja contando uma história interessante, cantando uma música, fazendo uma dinâmica ou dançando no palco, a aproximação com a audiência é o primeiro passo para uma apresentação de sucesso. Quando eu vou me apresentar, sempre procuro interagir com as pessoas antes de subir ao palco. Fico no meio delas, conversando, brincando e demonstrando naturalidade diante daquela situação. Com essa atitude, mostro às pessoas que sou simples, humilde e acessível, o que já cria uma certa conexão. Para mim, é algo que me tira a ansiedade e dá a sensação de que as pessoas estarão torcendo por mim quando chegar a hora H.

Não há necessidade de ser um palestrante, um grande estadista ou estar, necessariamente, num palco para criar conexão com as pessoas. No dia a dia, no trabalho ou na vida social, esse mesmo artifício serve para qualquer vendedor, líder, político e diversos profissionais. O importante é identificar a maneira mais eficaz de se conectar com as pessoas respeitando o jeito delas. Toda boa comunicação implica o uso coerente de palavras, entonações de voz e expressões corporais. Tratar as pessoas pelo nome é um bom começo. Oferecer um elogio sincero sobre alguma característica profissional ou física do interlocutor pode ajudar. Copiar a tonalidade de voz e alguns gestos de maneira bem sutil pode gerar harmonia na relação. São pequenos detalhes que fazem uma grande diferença.

Existe um velho ditado que diz: “trate os outros como você gostaria de ser tratado”. Particularmente, não acho isso uma boa ideia, pois cada um gosta de ser tratado de uma forma diferente, não é mesmo? No meu modo de ver, o certo seria: “trate os outros como os outros desejariam ser tratados”. Para uma apresentação em público, vale a mesma regra. Devemos criar conexão com as pessoas da plateia dizendo ou fazendo algo com o qual elas se identificam e tenham simpatia. Desta forma, pelo menos uns 50% do seu sucesso como orador já estará garantido. A outra metade depende do conteúdo, pois não adianta se conectar se o orador não oferecer algo de extremo valor.    
          
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