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28/04/2019 às 08h00min - Atualizada em 28/04/2019 às 08h00min

Cruzeiros e turismo no Brasil

ALEXANDRE HENRY | JUIZ FEDERAL E ESCRITOR
No começo de 2018, decidi fazer uma viagem de turismo diferente: pela primeira vez, embarquei em um navio de cruzeiro, que saiu de Santos e foi até Buenos Aires, passou duas noites lá, depois parou em Montevidéu e então voltou para Santos. Achei a experiência fantástica e, depois disso, fiz outra viagem de navio, agora fora do Brasil.

Viagens de navio tendem a ser vistas pela maioria dos brasileiros como coisa de rico, inacessível aos meros mortais que acordam cedo e trabalham o dia todo para pagar as contas no final do mês. Mas, em vários países do mundo, eles representam uma forma relativamente barata de viajar. Aliás, até no Brasil, não são tão absurdamente caros quanto se pensa. Fiz uma rápida pesquisa e encontrei, por exemplo, uma opção de viagem semelhante à que fiz, para março do ano que vem, com duração de oito dias e sete noites. Preço para duas pessoas: cerca de R$ 5.500,00 já com taxas. Só que, uma vez dentro do navio, você tem todas as refeições incluídas, todas mesmo, bem como lazer dia e noite. Quando o navio para em algum lugar, eles te oferecem passeios que custam uma fortuna, mas você não é obrigado a fazer e pode descer sem custo algum. Faça as contas e você verá que dificilmente um casal pagará menos do que isso por uma viagem para a Argentina e Uruguai, incluindo todas as refeições, passagem aérea e lazer. Se cada um dos dois guardar R$ 220,00 por mês, dá para o casal fazer uma viagem dessas de navio uma vez por ano.

Apesar desses valores, cruzeiro no Brasil ainda é algo caro. Sim, poderia ser mais barato! Mas, nossas taxas portuárias são escandalosas, sem falar na ridícula infraestrutura de nossos portos para acomodar passageiros de navios. No ano passado, quando fiz o cruzeiro, saí de um dos portos mais bem estruturados no Brasil para turismo, que é o de Santos. Mesmo assim, o embarque foi um tormento, com horas de filas e uma sensação de confusão. No desembarque, quase enlouqueci procurando minhas bagagens. Na segunda viagem que fiz, partindo de um porto nos Estados Unidos, todo o procedimento de embarque durou ridículos dez minutos. Antes disso, aliás, as coisas já tinham sido mais fáceis. Em Santos, carreguei malas pesadas por uma longa distância. Nos EUA, parei o carro e já tinha esse serviço disponível. Nem toquei nas malas. No desembarque, a mesma coisa: tudo organizado, sem estresse, sem caos.

Quanto aos custos, o Brasil cobra bem mais de taxa portuária do que a maioria dos países. A consequência disso é que os cruzeiros acabam ficando menos acessíveis e os navios param em menos portos nacionais. Uma pena. Há tanta beleza em nosso país, há tantas praias maravilhosas que poderiam ser visitadas por milhares de turistas em navios de cruzeiro todos os anos! Não acredito que o problema seja só dinheiro. Na última viagem que fiz, uma das paradas foi Roatán, em Honduras, um país bem pobre. Mas, conseguiram fazer naquela ilha um pequeno porto de cruzeiros bem organizado. Já em Costa Maya, no México, construíram uma espécie de píer que permite a parada simultânea de quatro navios de cruzeiro ao mesmo tempo, uma construção que, sinceramente, deve ter custado menos do que a maioria das pontes e viadutos feitos no Brasil. Além disso, fizeram uma estrutura portuária maravilhosa para receber o turista, cheia de atrações. Muita gente desce do navio e fica por ali mesmo, ainda que a ilha tenha praias maravilhosas.

Em 2018, cerca de 28 milhões de pessoas fizeram viagens de cruzeiro ao redor do planeta. O Brasil contribuiu com aproximadamente 450 mil passageiros, ou seja, 1,6% desse total. Isso porque temos um dos maiores e mais bonitos litorais do mundo! Quanto dinheiro não poderíamos ganhar com viagens de navio? Muito, mas muito mesmo!

Viajar de navio é bacana. O conforto de não se preocupar com nada é algo inacreditável. A comida farta, as várias opções de diversão, a possibilidade de conhecer muitos lugares em uma viagem só, a despreocupação com hospedagem, enfim, há um monte de fatores positivos e muita gente fora do Brasil já descobriu isso. Navios são seguros, em todos os sentidos. Não, não causam enjoos facilmente, especialmente os maiores e mais modernos. O brasileiro precisa conhecer mais essa forma interessante de turismo e o país precisa, definitivamente, entrar nesse mercado, seja reduzindo as tarifas portuárias, seja estimulando cidades balneárias a criarem uma estrutura mínima para atender os navios. Não custa tanto e traz um retorno fenomenal.
 
 
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