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02/04/2019 às 08h48min - Atualizada em 02/04/2019 às 08h48min

Confronto de congadas

ANTÔNIO PEREIRA
As congadas, ou congos, são manifestações folclóricas artificiais criadas pelos escravos à época colonial, utilizando-se de elementos históricos/culturais africanos. São manifestações dramáticas, ou seja, com enredo, geralmente bélico. Essas danças processionais com esse feitio e intenção não existiam na África.

Sabiamente os negros aceitaram as influências católicas, mas cuidaram de manter suas crenças e tradições sutilmente diluídas nessas manifestações.

Aqui, como em todo o Brasil, essas danças estão ligadas ao culto de alguns santos, principalmente Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. As congadas, moçambiques e outras manifestações típicas chegaram à nossa região com os escravos. Consta que o major José Gonçalves Valim Pirahi, que era músico e instalou a Banda Cecília em Uberabinha, em 1897, ano em que se mudou de Vila Platina (Ituiutaba) para cá, mandou vir de São Paulo um negro que ensinou aos locais como dançar a dança das fitas.

As festas de congadas e moçambiques, naqueles tempos primitivos, davam-se no mês de outubro em homenagem a Nossa Senhora do Rosário. Nossa Senhora do Rosário não é negra. A sua adoção se deve ao seu rosário de contas semelhante às contas divinatórias do orixá Ifá. Destacava-se, entre os velhos congadeiros e moçambiqueiros da cidade, o José da Lagoinha, que trabalhava para o coronel Manoel Alves dos Santos, grande político da época.

Tito Teixeira relaciona outros companheiros de José da Lagoinha: Antônio Direitinho, José Francisco Vargas, Antônio Joaquim Riveras, Mário Rita de Jesus e Iziquiel. Depois do José da Lagoinha, assumiu a liderança dos negros congadeiros o Manoel Angelino, que foi substituído por Sebastião Ramos, cujo comando durou cerca de 42 anos.

Lá por 1894, o negro José Pedro era capitão de congado e mantinha rixa velha contra os congadeiros de Santa Maria de Uberaba (atual distrito de Miraporanga). Visando acalmar os ânimos, o vigário Pio Dantas Barbosa (homenageado com o nome da rua Padre Pio) resolveu convidar aqueles negros para a festa uberabinhense de Nossa Senhora do Rosário.

José Pedro não gostou e pediu apoio ao capitão César, famoso mandingueiro ligado às congadas - que tem lá os seus mistérios que a Igreja desconhece. César era aleijado. Tinha um cavalinho alazão e trazia sempre a tiracolo uma bolsa de couro. Paraplégico, andava se arrastando sobre os joelhos protegidos por uma espécie de alpargatas presas a eles.

A congada de José Pedro foi esperar a de Santa Maria na ponte sobre o rio Uberabinha. César colocou o comandante dos marimbondos, João Camilo, na boca da ponte. Tão logo os congadeiros de Santa Maria adentraram à ponte, todos a cavalo, uma nuvem de marimbondos, não se sabe de onde vinda, envolveu-os com ferroadas impedindo-lhes a passagem. Embargados, os adversários só conseguiram passar pedindo a intervenção de João Camilo, reconhecendo dessa forma a superioridade dos congadeiros de Uberabinha.
 
 
(Fonte: Tito Teixeira)
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