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16/03/2019 às 10h13min - Atualizada em 16/03/2019 às 10h13min

Economia brasileira: aqui se faz, aqui se paga

ANTÔNIO CARLOS
No Brasil, os anos de 2015 e 2016 foram cruciais para a deterioração dos ambientes político e econômico. Dentro desse período houve um recuo de 3,5% das atividades econômicas, acarretando em uma das maiores recessões históricas do país. Após dois anos de declínio no PIB, a recuperação da economia deu-se a partir de 2017, impulsionada por fatores como a expansão da política monetária, o aumento do consumo das famílias e os bons índices da safra agrícola.

Com a posse de Michel Temer em maio de 2016, o novo governo adotou uma linha econômica mais convencional, excluindo o perfil intervencionista na economia e passando a seguir os mandamentos do tripé macroeconômico: responsabilidade fiscal, controle da inflação e equilíbrio das contas externas. Mesmo após a retomada da confiança na política econômica, a recuperação da economia brasileira caminha a passos lentos, desde então. Fechamos 2017 com um modesto crescimento de 1% no PIB.

No que tange à produtividade, a agenda de Temer destacou-se pela proposta da reforma trabalhista, com intenção de modernizar as relações de trabalho, prevendo um aumento da formalização e a baixa do elevado número de processos na Justiça do Trabalho. Flexibilização das férias, remuneração por produtividade e o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical. Outras medidas pautadas pela proposta de reforma seguem apenas no papel, por não oferecer ambiente político favorável às suas implementações.

Todas essas propostas ocorreram dentro de uma perspectiva favorável do cenário internacional, onde a maioria dos países desenvolvidos – exceto os Estados Unidos, que continuaram com crescimento estável – entrou em um período de desaceleração econômica, como a Alemanha, França e Inglaterra, por exemplo. Também temos a China, segunda maior potência econômica, que precisou abrir as suas fronteiras macroeconômicas a fim de barrar a desaceleração no país.

O governo chinês não confia no seu setor privado e conta com altos índices de capacidade ociosa e de empréstimos assumidos pelas empresas. Dessa maneira, a combinação de fatores praticada pela China – despretensiosos estímulos monetários, de créditos e incentivos fiscais – pode se mostrar inapropriada. Caso as ferramentas chinesas para conter sua desaceleração falhem, há grandes chances de o mercado global sofrer graves danos.

Em contrapartida, o mercado de trabalho dos EUA permanece intacto, mesmo com uma crise de governabilidade do presidente Donald Trump nos últimos meses. A política interna dos Estados Unidos poderia aumentar as incertezas em nível mundial. Contudo, a recente trégua na guerra comercial entre os governos chineses e norte-americanos atua como um sedativo na economia global, ainda que os conflitos políticos e tecnológicos estejam presentes.

Pensando estrategicamente... as perspectivas para as economias emergentes dependerão das incertezas globais. Os principais riscos incluem a desaceleração chinesa e americana; elevação inflacionária nos Estados Unidos (e arrocho financeiro por parte do Federal Reserve – o Banco Central americano); as guerras comerciais entre as grandes potências; a valorização do dólar; a queda nos preços do petróleo e das commodities em geral.

Embora paire uma nuvem negra sobre a economia global, o ponto positivo é que as objeções tornaram os principais bancos centrais mais flexíveis. Ainda assim, o fato desses bancos estarem exercendo políticas acomodadas significa que há pouco espaço para flexibilização monetária adicional. E, mesmo que a política fiscal não estivesse retraída na maioria das regiões do mundo, as medidas de estímulo tendem a ser adotadas com um atraso significativo, somente após o estancamento do crescimento econômico.

Podem haver fatores positivos suficientes para fazer de 2019 um ano relativamente atrativo, ainda que medíocre, para a economia global. Porém, se os possíveis cenários negativos dos países líderes vierem a se concretizar, a desaceleração sincronizada poderá levar a uma paralisação global do crescimento e, consequentemente, a uma forte desaceleração do mercado em 2020.

Por tudo isso, façamos uma reflexão: se não implementarmos a reforma da previdência, poderemos perder outra janela vigente de oportunidade. O cenário mais provável é o de aprovação, que resultaria na elevação da confiança na nossa economia, na abertura de espaço para estabilização das taxas dos juros e no aumento dos investimentos, com geração de novas vagas de trabalho. Temos novamente uma janela de oportunidade para atender uma condição primordial para o Brasil voltar a crescer. É insano desperdiçá-la.
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