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22/02/2019 às 09h19min - Atualizada em 22/02/2019 às 09h19min

Falar sozinho pode não ser loucura

CELSO MACHADO
Com frequência, quando alguma coisa me chama a atenção, tenho o hábito de pensar nas circunstâncias que a envolve. Nesta semana aconteceu algo que me provocou isso. Por uma generosidade de amigos não tão próximos assim, recebi uma consultoria gratuita sobre uma questão que me fez repensar muita coisa. E dentre elas, uma nada agradável: a da arrogância com que há anos venho conduzindo o assunto. De ficar pensando e protelando ao invés de ter a humildade de conversar com quem é autoridade. De buscar informações, avaliações. Parar para observar e perceber o que está evidente, mas nem sempre aparente.

Generoso comigo como habitualmente sou busquei a desculpa verdadeira e o conforto de ter agido involuntariamente. Não foi suficiente: burrice sem querer não deixa de ser asneira. Displicência e omissão nunca são boas companheiras. Ser excessivamente brando com nossos comportamentos, igualmente. Estamos tão habituados a criticar o comportamento dos outros que pouca atenção damos aos nossos. Gostamos de nos colocar no papel de juiz, detestamos exercer o de réu. Principalmente, de culpado.

Então parei para pensar e cheguei a uma conclusão óbvia: nesse caso agi com prepotência porque não me dediquei com atenção e profundidade como deveria. Fui deixando de lado, para depois e com esse comportamento tão em moda nos tempos atuais, postergando e tratando a questão superficialmente.

A reflexão não parou por aí, foi avançando para novas etapas. Afinal porque motivo não nos dedicamos a assuntos importantes para nós? Porque não temos tempo, é a resposta rotineira.Tudo bem, seguindo. Porque não temos tempo para umas questões e temos para outras? Em algumas nos envolvemos com intensidade e outras simplesmente deixamos de lado? Temos para o lazer, diversão e outras “cositas” mais e falta para decisões relevantes que vão ter impacto enorme em nossas vidas.

Ainda com a benevolência com que avalio minhas atitudes, cheguei a conclusão que preciso e devo dialogar mais comigo. Tenho feito isso com frequência inferior a que deveria. É sempre produtivo colocar as conversas em dia. Não apenas com os outros, também conosco. Falar umas verdades que estão entaladas na garganta. E ouvir outras necessárias.

Quem sabe até mesmo entrar naquela coisa que não gostamos muito: discutir a relação. Se isso já é delicado com os outros, nem preciso lembrar o quanto é mais conosco.

Como ninguém nos conhece melhor do que nós mesmos, regularmente é bom checar se estamos atentos como estamos agindo. Reparar se nosso comportamento reflete de verdade nossas intenções. No meu caso, se sonhos são insights para tomar decisões, ou se eles não passam de meros devaneios.

Avaliar se muito do que idealizo e planejo não realizo não é porque o tempo que dedico a imaginar é desproporcionalmente maior do que ao de fazer.
Para quem sofre de “tagarelice mental” como eu, isso é um tormento. Não gosto, mas tenho que aceitar, que em várias circunstâncias me fascina bem mais viajar do que chegar.

Pois é, tem momentos e não são poucos que temos que marcar um encontro conosco. Frente a frente, sem intermediários nem interrupções. Bater um papo sincero, sem nos culpar, mas também sem ficar passando a mão na nossa cabeça. Falar sozinho, nessa circunstância não é sinal de loucura, pelo contrário, de lucidez.

É sempre muito produtivo dar um tempo para nós. Rever e ver pendências, protelações. Como faz falta o tempo que ficamos em falta conosco. Por falar nisso, vou marcar esse encontro comigo. Fazer de tudo para não desmarcar. E desta vez, ver se consigo ir sozinho. O difícil vai ser convencer a cerveja...
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