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08/02/2019 às 11h24min - Atualizada em 08/02/2019 às 11h24min

Seu cérebro está mais velho do que você?

ANGELA SENA PRIULI
Hoje é que dia do mês? Responda rápido!

Pois é, muitos de nós vivemos uma rotina tão maluca que perdemos até mesmo a noção do tempo e a memória recente. Eu mesma, na semana passada, esqueci, sem me dar conta, do prazo de mandar a coluna CiênciaPop para o jornal e, como me deram gentilmente uma trégua e umas horas para reaver minha falha, resolvi falar sobre envelhecimento cerebral. Vamos lá!

"Você é tão velho quanto pensa que é", diz o ditado. Bem, não é bem assim. Seu eu interior é tão velho quanto o seu cérebro, mas a idade do seu cérebro pode ou não se correlacionar com sua idade cronológica.

A questão é que, na realidade, os órgãos do corpo não têm a mesma taxa de envelhecimento. Por exemplo, a pele envelhece bastante e visivelmente na maioria das pessoas mais velhas, mas órgãos específicos podem envelhecer em taxas diferentes, dependendo a que eles foram expostos, como por exemplo: fígado e álcool, pulmões e cigarro, tecido adiposo e alimentação desequilibrada. O próprio cérebro pode envelhecer mais rapidamente do que outros órgãos se você danificá-lo com drogas ou uma pancada, ou obstruir suas pequenas artérias com colesterol alto, ou diminuir suas conexões sinápticas por falta de estímulo mental ou até mesmo por não saber gerenciar o estresse diário.

Será que existe algum equivalente biológico aos anéis das árvores para mostrar quantos anos seu cérebro realmente possui?

Em um estudo inglês, os cérebros de 2.001 pessoas entre 18 e 90 anos de idade foram avaliados por ressonância magnética. Um algoritmo de computador analisou essas varreduras para construir uma referência para o que é "normal" para uma determinada idade.

Depois disso, os exames de 669 adultos, todos nascidos em 1936, foram comparados com as regras do algoritmo para determinar se os cérebros de 81 anos eram normais para essa idade. As pessoas cujos cérebros eram mais velhos do que o esperado tiveram um pior desempenho nas medidas de condicionamento físico, como função pulmonar, velocidade de caminhada e inteligência fluida (capacidade de resolver problemas novos de forma imediata).

Em um outro estudo americano, a expressão gênica foi avaliada em vários tecidos de uma mulher de 112 anos e foi revelado que seu cérebro era mais jovem que seus outros órgãos. Ou seja, um cérebro "jovem" pode ajudá-lo a viver mais e ter uma melhor qualidade de vida.

Há duas mensagens para levarmos para casa a partir dessas pesquisas. A primeira é que o estilo de vida e as influências ambientais afetam a idade e que nem todos os tecidos envelhecem na mesma proporção. A segunda é que agora pode ser possível testar quais intervenções para retardar o envelhecimento cerebral realmente funcionam. Atualmente, achamos que o envelhecimento do cérebro é retardado pelo exercício, por antioxidantes, por dietas saudáveis, reduzindo assim o estresse, que é forte responsável pela perda de nossas funções cognitivas como a memória. No entanto, ter medidas objetivas, como exames de imagem ou testes moleculares, para o envelhecimento em geral e para o cérebro, em particular, nos ajudará a decidir o quão bem essas medidas preventivas funcionam. Há também a possibilidade de que essas ferramentas de medição possam nos ajudar a identificar quem está envelhecendo muito rápido e por que isso está acontecendo, o que, por sua vez, pode levar a uma melhor terapia "anti-aging".

Pensando bem, o que ninguém esquece jamais é que envelhecer ou morrer parece terrível. Mas você já planejou o que faria do alto de seus 98 anos com cérebro tinindo? Responda para si mesmo: hoje você só trabalha horas a fio e cumpre tarefas em casa ou você cultiva algum hábito/hobbie que poderá ser sua atividade quando você estiver "curtindo a vida como um centenário". Não esqueça de refletir sobre isso.


Fontes:
Cole et al. Brain age predicts mortality. Molecular Psychiatry vol. 23, (2018): 1385–1392.
Horvath, Steve et al. The cerebellum ages slowly according to the epigenetic clock. Aging vol. 7,5 (2015): 294-306.
University of Texas Health Science Center at San Antonio. "Stress can impair memory, reduce brain size in middle age." ScienceDaily, 25 October 2018.
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