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28/01/2019 às 11h14min - Atualizada em 28/01/2019 às 11h14min

Matrimônio: outro alerta

ALEXANDRE HENRY | JUIZ FEDERAL E ESCRITOR
O título acima é uma provocação a um texto escrito por Ricardo Araújo Pereira na Folha de São Paulo, e enviado para mim por um amigo que deixou um matrimônio há não muito tempo. O texto de Ricardo Pereira, que é humorista, tenta brincar com o casamento por meio de críticas ácidas à instituição, mas é possível ver um elevado grau de seriedade nessa brincadeira.

Transcrevo o trecho que é a essência do pensamento dele: “Um dos problemas do casamento é a impossibilidade de cumprir a promessa que nos pedem para fazer no altar: jura amar esta pessoa para sempre? A questão não é essa. Formulada assim, faz parte do logro. Até posso estar convencido de que vou amar esta pessoa para sempre. O problema é que esta pessoa não vai ser esta pessoa para sempre. A pessoa com quem a gente casou há 20 anos é muito diferente agora. Há fotografias que o documentam. E não é só a aparência, é o resto também. Mudou de gostos, de ideias, até de caráter. Já não é a mesma pessoa”.

Eu não sou conselheiro matrimonial, pois estou casado há apenas 15 anos. 15 anos? Não, isso não é muito e retira boa parte da autoridade que eu teria para falar sobre o assunto. Quem fica casado 50 anos é que pode falar com propriedade sobre o tema. De toda sorte, já bati a média brasileira: segundo o IBGE, com base em dados de 2017, o brasileiro fica – em média – 14 anos casado, isso do dia do matrimônio até a data do efetivo divórcio. Tenho por mim que esse prazo é menor quando você olha a separação de fato, pois ninguém decide se separar no café da manhã e assina o divórcio no hora do almoço. Geralmente, esse é um processo que dura alguns meses, o que me faz concluir que os casamentos devam durar, na média, só uns 12 anos. Dito isso, já consegui superar a média dos brasileiros. Ainda não me dá autoridade plena para falar sobre o assunto, mas convenhamos que não é pouca coisa.

Feita essa observação, cabe dizer que realmente a pessoa com quem você se casou há vinte anos não é a mesma de hoje. Estou com minha esposa, contando o tempo de namoro, há 21 anos, e sei que muita coisa mudou desde que aquela mocinha aceitou namorar comigo, seja na personalidade, seja no aspecto físico. Aí é que está a questão: você gostaria de ficar a vida inteira com uma pessoa que nunca muda em nada? Claro, se for para mudar para pior, ninguém vai querer mesmo. Mas, como avaliar se uma mudança é para melhor ou para pior? Em alguns casos, fica fácil saber. Minha esposa era extremamente ciumenta no começo do namoro. Hoje, posso dizer que ela é uma pessoa absolutamente madura nesse ponto, não gastando seu tempo com dúvidas infundadas. Estou certo também que outros pontos da personalidade evoluíram para melhor. Esse é um exemplo de mudança boa, mas há outras que são só mudanças, nem para melhor, nem para pior.

Entremos então no ponto que mais pega: a aparência física. É difícil você dizer que a aparência de uma pessoa é melhor aos 42 anos do que as 21. Recém-saída da adolescência, a pessoa geralmente está no auge da sua beleza, sem rugas, sem calvície ou cabelos brancos, sem acúmulo de gordura na cintura, sem celulite ou estrias, enfim, a juventude é sempre o melhor elixir para a beleza. Mas, esse é um ponto em relação ao qual precisamos tomar muito cuidado. Se você olhar sua esposa ou marido agora, mas querendo enxergar uma aparência de 20 anos atrás, a decepção certamente será grande. O segredo então é olhar a pessoa e enxergar nela alguém que tem a idade atual, não aquela de quando vocês deram o mesmo beijo. Compare-a com outras pessoas da mesma idade e você estará sendo honesto com ela e com você mesmo. Parêntesis: nessa área, eu só tenho elogios à minha esposa, embora não saiba se a recíproca é verdadeira.
Agora, se você quer alguém que mantenha aquele corpinho recém-saído da adolescência, aquela energia de quem ainda está com os hormônios ligados à reprodução humana correndo em velocidade máxima pelo corpo, então a única solução é mesmo não se casar e ir trocando de namorado/a com frequência. Lembre-se apenas que a pessoa ao seu lado terá aparência de 20 anos, mas você não terá.

Digo tudo isso na certeza de que alguns casamentos realmente não dão certo. Há alguns defeitos que crescem com o tempo, há o desgaste natural do dia a dia, há sempre a chance de uma nova paixão capturar um dos dois, enfim, há muitos motivos para um casamento acabar. Ainda assim, acredito que o fato da pessoa não ser mais aquela de vinte anos atrás não é, por si só, motivo para o fim da relação.
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