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11/01/2019 às 08h11min - Atualizada em 11/01/2019 às 08h11min

Rumo ao cerrado

MARIANA SEGALA
As empresas buscam se instalar nos lugares onde encontram as melhores condições para desenvolver suas atividades. E por condições entenda desde proximidade de potenciais clientes e preços mais acessíveis de terrenos onde construir suas instalações até a abundância de profissionais qualificados. É natural, acontece desde que o capitalismo é capitalismo e se intensificou no mundo inteiro com a globalização. Em Uberlândia, a novidade é como cresceu o movimento de empresas de tecnologia que vêm de fora para dentro. Nos últimos anos, é notável o número de companhias inovadoras interessadas em se fixar na cidade. Os motivos são variados, mas várias histórias têm aspectos em comum.

Vejam o caso de Rodrigo Reis e Paulo Martins, dois cientistas da computação formados pela UFU. Os dois, há anos, vivem nos Estados Unidos. Foi lá que se tornaram sócios em uma empresa de tecnologia. Arena é a plataforma de marketing, voltada para a geração e distribuição de conteúdo, que desenvolveram juntos – e que hoje é adotada por sites e portais de mais de 80 países. A startup conta com parceiros do calibre do Redpoint, fundo americano conhecido por ter apostado em startups estreladas como Netflix e Nubank. Hoje, o Arena tem sete funcionários, distribuídos entre a sede, na Califórnia, e a Granja Marileusa, logo ali na região norte de Uberlândia.

Neste ano, com uma nova rodada de investimentos, estimada em US$ 5 milhões, o time do Arena vai crescer – e bem mais em Uberlândia do que em solo americano. Por aqui, equipe de desenvolvedores, engenheiros e designers pode alcançar 25 pessoas. Lá, ficará a equipe comercial e de marketing, com cinco pessoas. “Há muitas empresas americanas com unidades na Índia, na China, no leste europeu”, diz Reis. Não é difícil entender. Os custos para manter uma empresa no berço global da tecnologia são altos – e bons profissionais são disputados pelas startups com nada menos que Google e Facebook. “Em Uberlândia, as universidades formam excelentes profissionais todo ano e a cena tecnológica está crescendo, atraindo gente com cabeça de startup. Faz sentido para a gente essa espécie de volta para casa”.

No ano passado, outro filho da terra havia feito um movimento semelhante. Rodrigo Borges trocou Uberlândia por São Paulo nos idos dos anos 2.000, onde criou uma série de empresas de tecnologia pioneiras no segmento financeiro. Mas decidiu voltar para casa para desenvolver o mais inspirador dos seus negócios. O Social Bank, banco digital que permite até que pessoas físicas emprestem dinheiro entre si, nasceu fora, mas acabou se fixando em Uberlândia – mais precisamente, em uma charmosa esquina do bairro Tabajaras, onde fica a sede. Em conversa alguns meses atrás, Borges explicou que a escolha teve muito menos a ver com suas raízes, e muito mais com o fato de a cidade proporcionar condições favoráveis para empresas de tecnologia crescerem saudáveis. Só para colocar o novo negócio de pé, ele e seu sócio, o empresário Carlos Wizard Martins, reservaram R$ 50 milhões. Nesta semana, a notícia da expansão do modelo do Social Bank para mais 120 cidades nos próximos anos, a um custo de R$ 240 milhões, colocou a empresa em evidência mais uma vez.

Uberlândia também atrai empresas sem qualquer espécie de vínculo local. No último trimestre de 2.018, a paulista Altave anunciou que instalará uma fábrica aqui. Natural de São José dos Campos, a empresa fabrica balões cativos usados, por exemplo, em atividades de monitoramento. Entre outras funções, esses balões – que ficam “estacionados” em posições fixas – carregam consigo câmeras para captar imagens do alto. O investimento? Cerca de R$ 16 milhões.

Há algumas semanas, também causou frisson na comunidade de tecnologia a notícia de que a americana Fortinet – que desenvolve soluções de segurança, como antivírus e dispositivos para prevenir intrusões em sistemas – terá uma unidade na cidade. E não é qualquer tipo de unidade, mas sim um centro de assistência técnica, como os que a empresa já mantém em Miami e na Cidade do México. “Uberlândia é conhecida como um polo tecnológico em termos de oferta educacional e companhias estabelecidas, o que nos permite ter colaboradores altamente qualificados para atender às expectativas dos nossos clientes”, dizem representantes da empresa contatados pela coluna. Está longe de ser pouca coisa.

Cada uma com suas especificidades, o que todas essas são companhias buscam não é muito diferente. Gostam da ideia de contratar gente bem formada nas universidades da região. Estão particularmente interessados no fato de o custo da mão de obra local ser menor do que em capitais e outros grandes centros. Querem o brilho que encontram no olhar dos profissionais daqui, que se interessam pela possibilidade de trabalhar em grandes (ou pequenas) empresas inovadoras mesmo morando no interior – onde, diz o senso comum, empregos e ambientes desafiadores são uma raridade. É hora de aproveitar a maré.
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