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24/12/2018 às 10h53min - Atualizada em 24/12/2018 às 10h53min

Você acredita em Papai Noel?

ANGELA SENA PRIULI
Você sentiu uma perda de magia e se perguntou quando, em que idade, essa crença encantadora desapareceu? Enquanto quase todo mundo lida muito bem com essa pequena perda de magia sobrenatural em sua vida, desistir de toda a crença sobrenatural pode deixar um buraco muito maior.

Muito tem sido pesquisado sobre o porquê da religião ser natural para as pessoas e a ciência não. A crença no pensamento sobrenatural e mágico é intuitiva. A ciência, por outro lado, tem que ser aprendida. A ciência pode ser especialmente difícil, por vezes, envolvendo um árduo pensamento crítico e exigindo uma superação consciente de nossos muitos preconceitos e intuições cognitivas. É indiscutível que a ciência proporcionou grandes melhorias na qualidade e quantidade de vida e inúmeros confortos materiais. Mas a crença no sobrenatural, para a maioria das pessoas, proporciona conforto e significado emocional.

Embora os fatores emocionais, os vieses cognitivos e o pensamento mágico estejam por trás das crenças de muitas pessoas no sobrenatural, certamente há também razões muito racionais citadas por crentes altamente instruídos para substanciar suas crenças religiosas. Uma das principais justificativas intelectuais para a crença em um poder superior baseia-se na suposição de que a imensa complexidade de nosso mundo deve ter sido inteligentemente projetada e não poderia ter se formado espontaneamente e sem orientação. Exemplificando este ponto de vista, o astronauta John Glenn, em seu segundo voo espacial, maravilhou-se: “Olhar para esse tipo de criação aqui e não acreditar em Deus é impossível para mim.” Mas, de fato, descobertas cruciais em muitos campos científicos fizeram exatamente isso possível no século XXI.

Provavelmente estamos em um ponto de inflexão na história intelectual da humanidade em nossa compreensão de como nós, nosso mundo e tudo o que está contido nele, poderia de fato ter surgido espontaneamente e sem orientação ou ter sido guiado por uma força sobrenatural. Vejamos os dois lados...

O fascínio da magia
A visão científica do universo acaba com todas as formas de pensamento mágico. No entanto, a lista de crenças que repousam sobre alguma forma de pensamento mágico é extremamente longa, independentemente da religião e da superstição.

Algumas pessoas são surpreendentemente inconscientes a respeito de seu pensamento mágico, enquanto outras ficam vermelhas quando admitem isso, e explicam que apenas acham essas crenças difíceis de serem abandonadas. As pessoas são muito apegadas às suas crenças mágicas e por boas razões. O pensamento mágico e o sobrenaturalismo conferem muitos benefícios, como esperança, consolo, consolação, segurança, certeza, previsibilidade, controle, significado, um senso de mistério, encantamento, um sentimento de transcendência, negação da morte e muito mais. Além disso, grandes grupos organizados em torno de sistemas de crença compartilhados fornecem comunidade, coesão, pertencimento, identidade, propósito compartilhado e, frequentemente, um sistema de apoio social forte em tempos de adversidade.

Acreditar em um propósito maior é uma faca de dois gumes
 Acreditar que o universo é intencional e que tudo acontece por uma razão recai na crença sobrenatural, e isso é uma faca de dois gumes. Pode ser reconfortante, mas também pode levar pessoas espiritualizadas a enfrentar adversidades cruéis, parecendo que Deus quer que elas sofram. "Por que eu?" "O que eu fiz de errado?" "Qual é a lição pretendida?" Eles podem se culpar e se sentirem castigados. Eles podem se sentir abandonados por Deus. Para os profissionais da saúde que trabalham com pacientes terminais é comum ver um devastador abalo de fé, deixando uma pessoa perdida em desilusão e angústia.

A crença alternativa de que a vida é aleatória é inquietante, mas pode ser emocionalmente libertadora. Em última análise, é mais reconfortante saber que muitos tipos de infortúnio não são culpa de ninguém. E paradoxalmente, pode ser muito mais fortalecedor.

Quando deixamos de acreditar no sobrenatural e deixamos de ver magia em qualquer forma no mundo, o mundo se torna menos encantador e, de muitas maneiras, mais assustador em ser tão real e sem nenhuma figura paterna no comando. Mas também se torna muito mais racionalmente compreensível e nos libertamos de muitos tormentos neuróticos.

E para aqueles que estão intrigados para aprender o que a ciência do século XXI realmente sabe sobre a verdadeira natureza da realidade, um mundo imensamente interessante de conhecimento e descoberta espera por você!

É só pesquisar ou acompanhar um pouquinho da CiênciaPop aqui, todo domingo! Feliz Natal para você, com um universo cheio de magia e ciência!

Fontes:
Carl Sagan, The Demon-Haunted World: Science as a Candle in the Dark (New York: Random House, 1995), p. 218.
Texto parcialmente adaptado de: https://www.psychologytoday.com/us/blog/finding-purpose/201812/what-we-lose-when-we-lose-belief-in-god-and-the-supernatural
Ralph Lewis, Finding Purpose in a Godless World: Why We Care Even If The Universe Doesn’t (Amherst, NY: Prometheus Books, 2018).
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