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14/12/2018 às 09h48min - Atualizada em 14/12/2018 às 09h48min

Negócios da China

MARIANA SEGALA
Tudo na China é superlativo. O país concentra a maior população global, com 1,4 bilhão de habitantes. A cada ano, a economia se aproxima um pouco mais da americana: o PIB chinês ultrapassou US$ 12 trilhões em 2017. Com exportações anuais de mais de US$ 2 trilhões, a China ostenta o apelido de “fábrica do mundo”. A grandiosidade não é diferente quando o assunto é empreendedorismo e inovação. Desde 2014, o país vem apostando em políticas de incentivo em um grande programa de empreendedorismo de massa. De lá para cá, o número de novas empresas registradas diariamente no país subiu de uma média de 14 mil para 18 mil, de acordo com informações da embaixada da China no Brasil e da agência de notícias do governo, a Xinhua. Veja bem, eu disse diariamente. E 70% delas estão ativas.

Um grupo de brasileiros foi convidado a conhecer essa pequena revolução in loco. Por meio de parcerias com entidades como a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), o governo chinês levou cerca de 25 pessoas para participar do Seminário de Empreendedorismo para Jovens Brasileiros. No início do mês, eles embarcaram para Fuzhou, na província de Fujian, na costa sudeste do país. Faz parte do grupo Roberto Viana, empreendedor de Uberlândia e um dos sócios da Ipê Digital, startup que desenvolve sistemas de gestão. Há mais de uma semana, Viana e os compatriotas participam de palestras que enfatizam temas como a abertura da economia chinesa nas últimas décadas e realizam visitas técnicas a polos tecnológicos e empresas inovadoras da região. Em conversa com a coluna, ele descreveu as impressões que teve do que viu até agora.

Algumas características do ambiente de negócios chinês têm chamado a atenção dos brasileiros. Uma delas é o elevado nível de organização das instituições, das cidades, das iniciativas e entre as pessoas. O planejamento sempre foi uma marca forte da gestão do país. Do ponto de vista do ecossistema do empreendedorismo, conforme Viana, isso se reflete em celeridade. É surpreendente, segundo ele, a rapidez com que as tecnologias são desenvolvidas e implementadas, especialmente aquelas que invocam a inovação para resolver os problemas urbanos mais típicos – as soluções de cidades inteligentes, como se diz no jargão tech.

Isso dá tempo e abre espaço para os empreendedores se dedicarem ao que fazem melhor, que é criar. Uma das soluções apresentadas ao grupo foi um sistema eletrônico de pagamento de estacionamento baseado na leitura, por câmeras, das placas dos automóveis. Basta estacionar e depois, sair – sem precisar passar no caixa com um bilhetinho, nem mesmo ter de instalar uma etiqueta identificadora no veículo, como nos sistemas análogos mais modernos no Brasil. Simples assim.

Um desafio dos empreendedores chineses, conforme Viana, tem sido pensar em soluções e modelos de negócio que possam ganhar escala com ainda mais facilidade do que já se espera naturalmente de uma startup. Isso porque entregar inovação à bilionária população chinesa não é algo trivial. Acomodar tantas pessoas dentro das fronteiras de um país ainda desigual como a China é uma operação complexa – que, ao mesmo tempo, representa um mercado cativo para as soluções de cidades inteligentes. Diante de uma população tão grande, com renda em ascensão, fazer o dinheiro circular internamente no país tem sido uma preocupação cada vez maior do governo, tornada explícita durante o seminário com os brasileiros.

Ao mesmo tempo em que estimula a atividade inovadora, a China adota políticas controversas. O acesso à internet, como se sabe, é restrito. Não é possível acessar Google, Facebook, Instagram ou outros aplicativos de uso corriqueiro por empreendedores ou por cidadãos comuns, como nós. O aplicativo dominante no país é o WeChat, que nasceu como uma versão oriental do WhatsApp em 2012 e evoluiu para uma espécie de “faz-tudo virtual”.

Na China, o WeChat é usado para atividades tão diversas quanto pedir comida, consultar um médico, conversar, chamar um táxi, fazer pagamentos, entre muitas outras. Quem não utiliza o aplicativo fica isolado – como um dos integrantes da delegação brasileira que, por descuido, deixou de instalá-lo antes de sair do país. O aplicativo contabiliza mais de um bilhão de usuários na China e no resto do mundo, um alcance que não passa incólume às críticas de que possa estar dando aos chineses acesso a informações demais.

Da visita ao Oriente, resta aos empreendedores brasileiros a imensa capacidade de execução dos chineses como uma inspiração para desenvolverem seus próprios negócios. É uma realidade que, certamente, todos gostaríamos de ver replicada por aqui.
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