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07/12/2018 às 08h01min - Atualizada em 07/12/2018 às 08h01min

O agro é tech

MARIANA SEGALA
Maravilhas acontecem quando a tecnologia vai ao encontro das vocações históricas de um país – ou de uma cidade. A inovação no campo é um claro exemplo da potência da associação entre o tradicional e o disruptivo. Os esforços das últimas décadas para aprimorar as técnicas de manejo e a produtividade em áreas consideradas pouco apropriadas para o cultivo de grãos, por exemplo, ajudaram a transformar o Brasil em um dos maiores produtores agrícolas globais – ou o “celeiro do mundo”, como se costuma dizer. Agora, a nova geração de empresas inovadoras com alto potencial de crescimento – as startups – tenta resolver problemas cada vez mais específicos do agronegócio, com soluções baseadas na economia colaborativa e na conectividade. Assim como as startups do segmento financeiro foram apelidadas de fintechs e as voltadas para a educação, de edtechs, as que se dedicam ao campo costumam ser chamadas de agtechs. Estima-se que haja pelo menos 300 delas espalhadas pelo país.

Uma parcela considerável das agtechs nasceu em São Paulo. O estado concentra 46% das empresas mapeadas na última edição do Censo Agtech Startups Brasil, feito em parceria pela Agtech Garage e pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP. Mas há espaço para elas além dos limites paulistas. O segmento de agtechs é grande também aqui em Minas Gerais. Com 16% das que foram contabilizadas, o estado é o segundo em número de empresas, seguido pelo Paraná, com 12%. Elas são fabricantes de equipamentos inteligentes, desenvolvedoras de softwares de gestão, lojas virtuais de todo tipo.  Estão em diferentes estágios de maturação, sendo que a maior parte está na fase de criação dos seus produtos.

Entre as startups de Uberlândia, o agronegócio representa um mercado cativo – depois das edtechs, as agtechs são as startups mais numerosas do ecossistema de inovação da cidade. A informação consta no Mapeamento de Comunidades lançado na última semana pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups), que representa nacionalmente o setor.

Há todo tipo de solução em desenvolvimento em Uberlândia. Um sistema criado pela Sensix, por exemplo, analisa imagens das lavouras captadas por drones. Pelos padrões encontrados nas fotos, consegue identificar, por exemplo, a incidência de pragas na plantação. Já um aplicativo desenvolvido pela Alluagro coloca em contato quem possui e quem precisa alugar temporariamente máquinas agrícolas – uma espécie de Uber do campo.

Para quem precisa de crédito, a Nagro se tornou uma fintech do agronegócio reconhecida nacionalmente. Por meio da sua plataforma, produtores rurais podem escolher, entre uma série de instituições financeiras e fundos de investimento, quem oferece as melhores condições de financiamento para seus projetos e atividades. É, como os fundadores definem, um jeito de trazer a Faria Lima, icônica avenida paulistana que concentra os maiores bancos do Brasil, para o interior.

A Gira, por sua vez, criou um sistema de gestão de recebíveis do agronegócio que funciona por meio de um aplicativo para smartphones. A promessa é dar agilidade e segurança para cada operação de crédito. No Brain, centro de inovação em negócios digitais mantido pela Algar Telecom, o agronegócio é um dos segmentos prioritários para o desenvolvimento de novos produtos inovadores. Atualmente, a entidade mantém parceria com quatro empresas de tecnologia voltadas para o campo, sendo duas de Uberlândia. O objetivo é montar uma plataforma completa de soluções que permita aos produtores rurais aumentar a produtividade e a rentabilidade da terra.

O modelo de criação adotado no Brain prevê que cada empresa parceira entre com o que faz de melhor. Desse conjunto, já estão saindo sistemas que monitoram o desenvolvimento da lavoura com drones, que geram mapas de fertilidade indicando precisamente que áreas das fazendas precisam receber mais (ou menos) nutrientes e ainda que conectam os equipamentos das propriedades, como tratores e colheitadeiras, à internet via rádio. Se tudo der certo, o produto completo vai para o mercado no início de 2019.

Produtores rurais podem ser mais afeitos à tecnologia do que imagina o senso comum. Os empreendedores relatam que a receptividade às soluções costuma superar a expectativa. Não poderia ser diferente. É difícil resistir quando os resultados são palpáveis. E que eles sejam cada vez mais evidentes – porque o agro pode ser melhor se for tech.
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