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27/11/2018 às 09h57min - Atualizada em 27/11/2018 às 09h57min

Agostinho e Garcia

ANTÔNIO PEREIRA
Eram portugueses. Da Lapa do Lobo. Famílias que moravam próximas, os Garcia com mais homens, os Agostinho com mais mulheres. Casaram-se. O primeiro a vir para o Brasil foi o Manuel Garcia. Depois, o Zé Agostinho que veio trabalhar na fazenda de João Lozi.  Vieram, depois, o João Garcia, o João Agostinho e o José Garcia. O Zé (o primeiro) montou, com o Lozi, a primeira máquina de beneficiar arroz da cidade. Era de madeira, movida por roda d’água. Em 1905, casou-se com Ermelinda Lozi e mudou-se para a rua Atalaia (atual Tenente Virmondes). Começava a imigração de portugueses e italianos que estabeleceram os primeiros serviços técnicos. Zé Agostinho foi pau para toda obra. O primeiro serviço decente de abastecimento de água feito na cidade, no governo de Alexandre Marquez, em 1909, teve projeto de José Camin (italiano) e mão de obra do Zé Agostinho (português) e Sílvio Rugani (italiano) auxiliados por Marinho Lozi (italiano).

Nesse mesmo ano, Custódio da Costa Pereira inaugurou o Cine Theatro São Pedro, cuja instalação foi feita pelo Zé que participou também da decoração e da carpintaria. Como não havia quem operasse, lá foi o Zé passar os filmes. Antes de rodar as fitas, ele ia para a frente do palco jogar água na tela para que não se queimasse. As máquinas eram movidas a gasolina, não havia energia elétrica. Foi ele quem alinhou, no meio do cerrado, as ruas traçadas pelo dr. James Mellor, criando a Cidade Nova, acima da atual praça Clarimundo Carneiro. Agostinho construiu, ainda, vários trechos de estradas, pontes e montou indústrias próprias. Deixou sua marca nas atividades técnicas dos princípios do século XX.             

José (outro) foi o terceiro da família Garcia a chegar. Era 1914. Casado com Josefina, da família Agostinho. Já tinham alguns filhos. Alexandrino era o mais velho. Veio sozinho e foi trabalhar na Mogiana, mas logo fixou-se em Uberabinha e foi para a cerealista do Zé Agostinho, seu cunhado. Juntou algum dinheiro, voltou e trouxe sua irmã, Maria, que era casada com o João Agostinho, que já estava no Brasil. Não trouxe a família devido às dificuldades criadas pela guerra. Desta vez, foi infeliz.  Quebrou uma perna e ficou, por falta de recursos médicos, quarenta dias deitado com a perna apoiada no interior de uma telha colonial. Quando a guerra acabou, com grande dificuldade, trouxe a família. Instalaram-se num casebre perto de onde é a praça Sérgio Pacheco e José Garcia foi ser carroceiro com ponto em frente aos armazéns do Teixeira Costa (praça dr. Duarte).  Esses armazéns foram demolidos para alargamento da praça. José comprava couros no matadouro para revendê-los ao curtume. Como a rua General Osório tinha péssimo leito, nos pontos mais críticos da subida, José Garcia enfiava o ombro debaixo de uma das traves da carroça e ajudava o animal a romper. Alexandrino apegou-se ao tio João Agostinho que lhe ensinava tudo sobre as necessidades técnicas da velha Uberabinha. Aprendeu a dirigir, mecânica, serviço de pedreiro, de marceneiro. Foi servente de pedreiro (trabalhou na construção do Colégio Estadual, “museu”), motorista, ferreiro nas oficinas Crosara, chapa, de tudo.

Com sacrifício e grande ajuda da esposa, Josefina, que plantava hortaliças, e com a colaboração dos filhos, José comprou uma chácara na rua 13 de Maio (Princesa Isabel) e passou a dedicar-se à venda de verduras. Enquanto isso, João Agostinho ensinava o Alexandrino a mexer com máquinas beneficiadoras. João montou uma, no começo da avenida Afonso Pena, onde foi o jornal Correio de Uberlândia e levou o Alexandrino para trabalhar com ele. Com sacrifício, José Garcia juntou um dinheirinho e ficou sócio do cunhado. Passados alguns anos, com mais alguma economia e um empréstimo do parente João Fernandes, José comprou a parte do cunhado e admitiu o filho Alexandrino na sociedade. Essa cerealista passou por três razões sociais: José Alves Garcia, depois José Alves Garcia & Filho e, por fim, Alexandrino Garcia & Irmãos. Estava lançada a semente de um futuro império econômico. Mas aí, a história já é outra e está contada no meu livro “Com o Suor do Teu Rosto” (SABE, 1993).
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