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15/10/2018 às 10h11min - Atualizada em 15/10/2018 às 10h11min

Sobre palavras e pancadas

ALEXANDRE HENRY
Este não é um texto só sobre educação infantil. Aliás, é menos sobre educação infantil e mais sobre... Bem, vou deixar que você tire suas próprias conclusões.

Um dos maiores desafios da paternidade/maternidade é conseguir educar bem o seu filho sem recorrer a, pelo menos, alguns tapas de vez em quando. Tudo começa depois do primeiro aninho, quando o “bebezinho lindo” se transfigura em um ser capaz de fazer birras monstruosas. Tem também a fase do teste de autoridade: quero ver quem vai me impedir de subir na cadeira! Você fala: “Menino, não suba aí!”. A criança te olha com desprezo e sobe. Você a desce de lá, dá novo aviso e, na sequência, ela sobe de novo. Não preciso nem comentar sobre os anos seguintes, pois quem tem filhos já conhece bem.

É difícil não recorrer a uns tapas, não é verdade? Concordo. Mas, mesmo sabendo dessa dificuldade, digo que é preciso tentar resolver as coisas sem recorrer à violência. Pegue esse exemplo da educação dos filhos. Se você, desde o início, assim que nasce aquele bebezinho mais fofo, já busca conhecer as várias técnicas para superar as birras que sua criança vai dar, sem recorrer às palmadas, as coisas se tornam um pouco mais fáceis. Sim, tem muito “macete” interessante para dobrar seu filho sem violência. Acontece que a maioria de nós não se esforça para percorrer o caminho mais longo e trabalhoso do diálogo e da persuasão racional. Essa preguiça acaba por fazer parecer que a violência é a única solução que resta.

Um dia, eu dei umas palmadas na minha filha. De leve, sem sofrimento físico ou lesão, mas dei. Quando isso aconteceu, fiquei chocado comigo mesmo e me perguntei: aonde é que eu quero chegar com isso? Será que eu havia tentado outras maneiras de contornar essa birra dela? Que exemplo eu estou passando? Será que eu não estou ensinando a ela que, no final das contas, a violência é uma forma de resolver as coisas? Será que eu não estou demonstrando descontrole emocional e imaturidade?

Depois disso, tenho me esforçado – com sucesso, embora também com muita dificuldade – para nunca mais repetir aquele gesto. Somente consigo me ver evoluindo como ser humano se eu consigo conquistar o mundo sem recorrer à violência. O homo sapiens não se tornou a espécie dominante no planeta por conta de músculos, mas por conta de neurônios. Leões, touros, elefantes, todos são mais fortes que nós, mas nós é que os dominamos.

Quando alguém recorre à violência para fazer valer a sua vontade ou a sua opinião, essa pessoa simplesmente está abdicando de utilizar a inteligência superior dos humanos para se valer da força física dos animais. Em resumo, ela desce à condição de um animal despido de racionalidade, de intelecto, controle emocional e de capacidade de persuasão. A violência diz mais de quem bate do que de quem apanha: todo ser vivo pode sucumbir à força física, mas só o ser humano pode superar outro ser vivo sem recorrer à força física.

A atual realidade nos convida a refletir sobre isso. Quando alguém impõe a sua opinião por meio da violência, essa pessoa já perdeu a discussão. “Perdeu? Como assim? Perdi nada! O outro agora está caladinho!” – responde aquele que tem o sangue alheio escorrendo pelas mãos. Provavelmente, se o primeiro leão que matou um homo sapiens pensasse, teria chegado à conclusão de que ele era superior àquela espécie bípede agonizando em suas presas. Mas, nem o leão pensava e nem seria algum dia a espécie superior. Pior do que isso, o tempo mostraria que o exercício da racionalidade e da inteligência por parte daquela espécie “inferior” seria a maior expressão de superioridade que poderia existir, muito mais do que qualquer força.

No final das contas, acredite em mim, prevalecerá sempre o ser mais inteligente, não o que espalha a violência por meio da brutalidade física. É isso o que eu quero ensinar para a minha filha, mesmo sendo muito difícil controlar a vontade de dar alguns tapinhas no bumbum dela quando vem a birra. Eu quero ensinar a ela que sou humano, que sou superior aos animais, que controlo as minhas emoções ao invés de ser controlado por elas, que posso vencer mesmo não sendo o mais forte fisicamente. E quero que ela esteja do lado dos que pensam assim, pois a evolução das espécies já demonstrou claramente, como eu disse, que o reinado não é de quem tem mais músculos, mas de quem tem mais neurônios. Na disputa entre a força física e a inteligência, a força física pode até vencer uma ou outra batalha, mas não há dúvidas de quem sempre vence essa guerra.
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