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24/09/2018 às 09h49min - Atualizada em 24/09/2018 às 09h49min

Você ainda vai ter uma

ALEXANDRE HENRY
Quando eu tinha meus vinte e poucos anos, morava no bairro Martins, em Uberlândia, e eventualmente ia trabalhar na Receita Federal pelas manhãs de bicicleta, já que o atendimento ao público era somente à tarde. Voltava para casa na hora do almoço, tomava um banho e seguia novamente para o trabalho, mas de carro, pois pedalar os cerca de cinco quilômetros depois do almoço me faria chegar suado.

Depois dessa rápida experiência, nunca mais usei a bicicleta para me deslocar para o serviço. Primeiro, porque Uberlândia (e quase todas as cidades do Brasil) não tem ciclovias adequadas. Segundo, porque nossa cidade, apesar de não ser nas montanhas mineiras, tem algumas subidas que fazem com que a gente tenha que suar ao andar de bicicleta, exigindo um banho no trabalho, algo quase nunca disponível.

Porém, a tecnologia já chegou e os países desenvolvidos já foram invadidos pelas bicicletas com pedal assistido. Testei uma na minha recente ida à Áustria e achei fantástico. Uma bateria recarregável, que geralmente dura pelo menos uns 100 quilômetros, é ligada a um motor elétrico instalado no cubo traseiro ou no movimento central (junto ao pedivela). Ao contrário de uma motocicleta, porém, não há acelerador, já que o objetivo do sistema é apenas auxiliar na pedalada, reduzindo o esforço necessário. No guidão, há um pequeno visor para você selecionar a potência desejada: quanto maior, menor é o esforço que você deve fazer. O sistema funciona incrivelmente bem e, em uma subida, faz com que você consiga manter a velocidade fazendo o mesmo esforço que faria em um trecho plano sem a assistência elétrica.

Pedalar com uma bicicleta de pedal assistido é muito legal, acredite em mim! Os puristas vão dizer que isso não é andar de bike, mas a intenção desse tipo de bicicleta não é disputar espaço com as tradicionais e, sim, trazer mais gente para o ciclismo. Quem? Todas aquelas pessoas que, pelos mais diversos motivos, não podem ou não conseguem fazer grandes esforços pedalando. Um exemplo é quem vai para o trabalho e não pode chegar suado, como era (e ainda é) o meu caso. Com o pedal assistido, a pessoa reduz o esforço nas subidas e, se quiser, até acelera um pouco o deslocamento nos trechos planos, conseguindo chegar ao serviço de forma mais rápida e ainda em condições higiênicas para trabalhar. O sistema também permite que pessoas sem muito condicionamento físico possam acompanhar outras, já mais condicionadas, em passeios por trilhas ou ciclovias. Em resumo, as bicicletas com pedal assistido democratizam o uso desse meio de transporte e lazer.

Trata-se de uma evolução tecnológica muito boa em todos os sentidos. Mesmo que reduzam o esforço, as bicicletas de pedal assistido ainda obrigam a pessoa a fazer força, em um movimento que ajuda na circulação sanguínea e na saúde em geral. O custo de se recarregar a bateria também é mínimo, risível, especialmente diante dos valores que se gasta para abastecer um carro. Quem não quer economizar o valor de dois ou três tanques de combustível por mês? A poluição causada por essas bicicletas também é praticamente irrelevante, dado que, como já dito, a energia elétrica utilizada também é pouca. Se for energia proveniente de uma fonte renovável, como a solar ou eólica, tendências para o futuro, então a poluição será inexistente. E o trânsito? Uma bicicleta ocupa muito menos espaço do que um carro. Menos trânsito é menos custo na manutenção de ruas, menos perda financeira com tempo parado em congestionamento etc.

Claro, o preço ainda é proibitivo para a maioria da população. No geral, uma bicicleta com pedal assistido e bateria de qualidade ainda custa mais de R$ 10 mil. Porém, a tendência é esse preço ir caindo cada vez mais, até se tornar uma opção mais barata do que as motos de entrada. Pelo tanto de bicicletas do gênero que vi na Europa, o custo de produção realmente deve diminuir rapidamente, ainda mais se os esforços de várias empresas na redução do valor das baterias de íon-lítio derem certo.

Por tudo isso, eu acredito que você ainda vai ter uma bicicleta com pedal assistido em um futuro não tão distante. Quando os preços caírem, eu pretendo comprar uma, mantendo também a minha tradicional para quando eu quiser fazer um esforço físico maior. Se os prefeitos investirem mais em ciclovias e os empresários investirem em locais para seus empregados guardarem as bicicletas durante o horário de trabalho, acredito que podemos ter uma pequena revolução nos meios de transporte.
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