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22/08/2018 às 08h04min - Atualizada em 22/08/2018 às 08h04min

'Tully'

KELSON VENÂNCIO | COLUNISTA
Foto: Divulgação
Em 2008 o diretor Jason Reitman e a roteirista Diablo Cody fizeram do filme “Juno” um dos mais assistidos e discutidos naquela época. Uma comédia dramática divertida e interessante que abordava a gravidez na adolescência. O filme fez tanto sucesso que foi indicado a cinco estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme. Chegou a vencer um deles, o de melhor roteiro original. Dez anos se passaram e a dupla de cineastas volta com outra produção que debate praticamente o mesmo tema: a gravidez. Porém, em “Tully” eles mostram os primeiros meses de uma mãe após o nascimento de uma criança escancarando os pontos positivos e negativos de ter um filho.

O filme nos conta a história de Marlo, uma mulher à espera do terceiro filho. Mesmo sufocada pelas tarefas domésticas e os cuidados com os filhos, ela não consegue aceitar de primeira a sugestão do seu irmão de ter uma babá noturna para que ela e seu marido possam dormir em paz. É somente num momento de desespero que ela cede e liga para Tully. Frente a frente com a jovem, uma espécie de espelho da sua personalidade, Marlo se vê diante de uma jornada de autoconhecimento: redescobre um lado seu que até então ficara esquecido e reflete sobre as escolhas que a levaram até ali.

A narrativa nos traz uma boa e aprofundada reflexão sobre a vida sofrível de uma mãe que abandona tudo o que era antes para se dedicar exclusivamente aos seus filhos. O roteiro é muito bem escrito e aborda o quanto uma mulher que acaba de dar à luz sofre consigo mesma por não conseguir mais ser como era, especialmente na questão física mesmo e também os medos, decepções, arrependimentos que a maternidade traz. Além disso, faz questão de enfatizar que nada e nem ninguém substitui o trabalho de uma mãe nos cuidados com os filhos. Porém, nos mostra que além de ter de aceitar tamanha responsabilidade, uma mãe muitas vezes ainda não conta com a ajuda necessária para cuidar de suas crianças, até mesmo do próprio pai que acaba achando que a parte dele é apenas sustentar a família.

Mas a premissa vai além disso quando a personagem Tully aparece na trama já que ela representa exatamente o contrário de tudo que Marlo tem passado em sua vida de mãe. Tully se torna um reflexo daquilo que Marlo queria ser tanto fisicamente quanto psicologicamente. E a partir do momento em que as duas começam a ter um excelente relacionamento, a vida desgastada da mãe começa a mudar completamente. O roteiro ainda nos traz uma grande reviravolta que nos pega de surpresa e nos faz refletir e discutir o que acabamos de assistir ao fim da projeção.

Mesmo tendo um roteiro impecável, de nada adiantaria se não tivéssemos as excelentes atuações das atrizes Charlize Theron e Mackenzie Davis que mergulham com muita vontade em seus personagens nos brindando com ótimas interpretações. De um lado uma mulher deprimida e sem força de vontade para continuar sendo uma boa mãe. Do outro uma jovem que mesmo solteira e sem filhos, mostra como a vida deve ser vivida independentemente de qualquer obstáculo.

Tully é sem dúvida um ótimo filme que merece ser assistido por todos, especialmente aqueles que são pais ou que querem ser. É uma ótima produção para mudarmos o conceito da maternidade e valorizarmos mais as mães que são muito mais do que gestantes.

Nota 8
 
 
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