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20/08/2018 às 09h26min - Atualizada em 20/08/2018 às 09h26min

Nem tudo é notícia falsa

ALEXANDRE HENRY | JUÍZ FEDERAL E ESCRITOR
A expressão da língua inglesa “fake news" tomou conta do mundo depois da popularização das redes sociais e, principalmente, da campanha de Donald Trump, o presidente americano que repete essa expressão à exaustão, sempre que alguma notícia contrária aos seus interesses é divulgada.

Realmente, é preocupante a quantidade de notícias falsas divulgadas todos os dias e, mais ainda, é estarrecedora a quantidade de pessoas que não só acreditam nessas bobagens, mas também ajudam a compartilhá-las. É um dos males do século XXI, a meu ver. Como qualquer pessoa, hoje, tem potencial para propagar para o mundo todo qualquer bobagem, bastando para isso apertar um botão no celular, o troço tomou proporções catastróficas. O pior é que o ser humano tem uma tendência gigantesca a acreditar naquilo que o agrada, naquilo que vai ao encontro perfeito de suas expectativas, aspirações e sonhos. Esse é o combustível maior das “fake news" e de quem as fabrica. Você é a favor de armar a população para acabar com a bandidagem? Se você receber uma mensagem no celular com a notícia de que uma velhinha de 108 anos, usando uma garrucha enferrujada que foi do avô dela, matou dezoito bandidos que tentaram invadir sua casa, é provável que você tenha tendência a acreditar naquilo, mesmo que seja de fonte totalmente duvidável ou que nem tenha fonte identificada.

Mas, há o outro lado da moeda e aqui entra novamente o presidente americano Donald Trump. Se as bobagens falsas que circulam na rede conseguem angariar um raro consenso de que algo precisa ser feito para contê-las, há também quem se aproveite desse movimento sério de combate às notícias falsas para atribuir tal qualidade a tudo o que não agrada. Isso é muito comum entre políticos, muito mesmo, especialmente em época de campanha eleitoral. Se foi publicada uma notícia de que o sujeito fez alguma coisa de errado, logo ele se manifesta nas redes sociais dizendo que é tudo “fake news", em uma reação básica e, na maioria das vezes, bem eficiente. Ora, associar uma notícia ruim contra você a esse oceano de falsidades que tem sido combatido pelas pessoas mais sérias deste planeta é um jeito fácil de destruir a credibilidade daquela informação e seguir em frente.

Porém, nem tudo é “fake news" e você deve estar atento a isso nestes tempos de campanha eleitoral que se iniciam. Assim como existem algumas dicas para você não acreditar nas bobagens das notícias realmente falsas, há também dicas para você levar a sério certas informações, mesmo as que circulam pelas redes sociais. A principal delas é verificar a origem da notícia. Aliás, as origens. Quanto mais fontes e de órgãos mais críveis, maior é a chance daquilo não ser mentira. Ainda temos grandes meios de comunicação que ganham a vida com publicidade e que precisam manter a reputação para não perder mercado. Geralmente, quem trabalha nesses jornais, revistas, rádios e televisões é gente que se formou em boas faculdades e que também tem um nome a zelar.

Eu costumo fazer isso. Se recebo algo pelas redes sociais que me soa absurdo, às vezes nem vou aos grandes veículos de comunicação para conferir. Já busco direto na internet pelo tema em sites que analisam se determinada informação é falsa. Se não encontro neles, verifico se saiu em algum jornal e TV de abrangência nacional. Aliás, verifico se saiu em mais de um. Caso a resposta seja positiva, entendo como pouco provável que aquilo não seja verdade, embora eu saiba que também as grandes corporações de comunicação têm seus interesses.

Há ainda a consulta a fontes oficiais. Certa vez, já sabendo que um grupo de jornalismo sempre publicava informações mais favoráveis a um determinado partido político, li que um governo estadual dirigido por tal partido gastava horrores com publicidade estatal nas revistas do grupo. O que eu fiz? Fui atrás da informação no Diário Oficial daquele estado e, de fato, havia lá vários contratos de publicidade, exatamente como foi divulgado.

Enfim, o que eu quero dizer é que é importante você buscar a veracidade da informação não apenas para ter certeza de que se trata de uma “fake news", mas também quando o caso é de ter certeza de que não é. Desmerecer uma notícia verdadeira é uma forma de mentira tão prejudicial quanto as outras. Em tempos eleitorais, gastar um tempinho para diferenciar o real do falso é um ato essencial de cidadania.
 
Alexandre Henry Alves - Juiz Federal e Escritor
www.dedodeprosa.com
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