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05/03/2018 às 15h02min - Atualizada em 05/03/2018 às 15h02min

Envelhecendo

ALEXANDRE HENRY ALVES* | COLUNISTA

A gente não pensa muito na morte antes dos 30 anos de idade. Nas três primeiras décadas de vida, quase tudo ainda está para fazer e a quantidade de possibilidades de escolha à frente não deixa muito espaço para você pensar que, um dia, tudo terá fim. Sua cabeça está ocupada por diversão, por pensamentos sobre o caminho profissional, a cidade onde você vai morar e a pessoa que estará ao seu lado nesta noite. O corpo, sobrecarregado de hormônios da juventude, não dá sinais de que um dia vai se cansar.

Entre os 30 e os 40 anos de idade, as coisas começam a mudar um pouquinho. Muitos já deixaram para trás a marca de ser a geração mais recente e se tornaram pais. Para as mulheres, completar 30 anos significa perceber que o corpo está envelhecendo e que, em alguns anos, o sonho da maternidade poderá se tornar bem mais difícil e, às vezes, até impossível. Acho que essa é uma das marcas mais significativas para as mulheres acerca da passagem do tempo. Já para os homens, aparece uma barriguinha aqui, um cabelo branco ali, a calvície começa a dar sinais e o fôlego não é mais o mesmo. Mas, para ambos os gêneros, ainda é tempo para quase tudo.

Aí, chega-se aonde estou agora: na década dos 40 anos de idade. Você, que me lê e já tem muito mais do que isso, deve estar sorrindo da minha ingenuidade, achando que não sei nada de velhice do alto dos meus jovens quase 42 anos. “Espera para ele ver quando chegarem os 60, os 70...” – você pensa. Mas, olhe para trás. Veja se não é no ponto em que estou que a gente começa a perceber que realmente está envelhecendo? Não, eu não me sinto velho ainda – quero deixar claro. Mas, se eu viver exatamente o tempo relativo à expectativa de vida atual do brasileiro, posso dizer que já passei da metade do caminho. E, a cada dia, vendo pessoas com a minha idade ou um pouquinho mais que já partem por conta de doenças repentinas, é natural que eu comece a perceber que a vida tem um fim.

Aí, entra o vídeo a que eu assisti hoje pela manhã, mandado em uma rede social. Você já deve ter visto. É rapidinho e mostra casos de idosos que fazem coisas inusitadas para a idade: pular de paraquedas, correr maratona, fazer tatuagens, surfar, entre outras coisas.

Fiquei pensando nas duas coisas, ou seja, no vídeo e na minha sensação de que o tempo está passando. Definitivamente, não dá para evitar o envelhecimento do corpo. Sim, dá para retardar os efeitos da idade. Perder peso, fazer exercícios e ter uma alimentação mais saudável é a receita mais indicada para cuidar da matéria que carrega a sua alma. Exceto no caso de pessoas que são acometidas de alguma doença crônica e debilitante, tal receita pode fazer com que você pareça 20 anos mais novo do que o seu colega que também fez 70 anos de idade, mas não seguiu o mesmo caminho de cuidados com o corpo. Prestes a fazer mais um aniversário, eu tenho pensado muito nisso. Não tenho pretensões de correr uma maratona, como um dos personagens do vídeo que me foi enviado, mas penso que posso fazer muitos passeios de bicicleta até bem tarde na vida, se eu mantiver um ritmo bom. A gente vê muito europeu quase na casa dos 80 anos de idade rodando por ciclovias nos vários cantos do planeta.

Mas, para além do corpo, o que me fez pensar é que há algo que você pode praticamente blindar dos efeitos da velhice: a mente. Claro, deixemos de lado os tristes casos de doenças crônicas da cabeça. Fora isso, dá para dizer para o resto do mundo que seu corpo pode até envelhecer, mas a sua mente não envelhecerá. Os velhinhos do tal vídeo me parecem ser assim. Eles decidiram que a cabeça vai continuar jovem e ponto final. Conheço pessoas que também tomaram essa decisão. Quando minha esposa foi fazer faculdade em Uberaba, em 2002, ela perguntou a uma amiga se ela não queria fazer também. Detalhe: essa amiga estava com 56 anos de idade, já aposentada como professora universitária. Fizeram a faculdade juntas. Depois, fizeram uma pós-graduação também. Hoje, já com mais de 70 anos de idade, eu acompanho as postagens dela viajando para levar seus cães para exposições ou para fazer turismo nos mais diversos lugares. Outro dia, eu a encontrei caminhando no Parque do Sabiá. Invejável disposição, mas mais invejável é a cabeça dela.

Eu quero ser assim quando crescer, ou melhor, quero ser assim na medida em que envelhecer cada vez mais. Como eu disse, o envelhecimento do corpo é algo inevitável, embora possa ser minimizado um pouco com a receita que dei. Mas, o envelhecimento do corpo e da alma é uma decisão pessoal de cada um.
(*) Juiz federal e escritor
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